terça-feira, 8 de abril de 2025

BANHO DE SOL NO 1º BATALHÃO DE GUARDAS

 BANHO DE SOL COM OS PRESOS NO QUARTEL



ÍNDICE

 

CAPÍTULO 1: A Chegada ao 1º Batalhão de Guardas 

CAPÍTULO 2: A Vida no Quartel 

CAPÍTULO 3: O Curso de Massagem no Instituto Benjamin Constant 

CAPÍTULO 4: O Encontro com o Coronel Rubens Bayma Denyd 

CAPÍTULO 5: Massagens e Conexões 

CAPÍTULO 6: O Preso Barbas 

CAPÍTULO 7: Histórias e Memórias no Pátio 

CAPÍTULO 8: Reflexões sobre a Liberdade 

CAPÍTULO 9: A Amizade Inesperada 

CAPÍTULO 10: O Legado de Nelson Rodrigues 

CAPÍTULO 11: Lições de Vida no Quartel 

CAPÍTULO 12: Encerramento e Reflexões Finais 

Bem-vindo a uma jornada cheia de memórias e reflexões que vão muito além das paredes de um quartel. Ao abrir as páginas de "Banho de Sol no 1 BG", você é convidado a mergulhar em um universo que pulsa com a vivacidade da vida militar e a profundidade das relações humanas. Aqui, cada relato é um convite a sentir o que muitos poderiam considerar cotidiano, mas que, na verdade, transborda de significados inesperados.

 

Imagine-se, por um momento, na São Cristóvão de 1973, cercado por aromas de café fresco e um clima de camaradagem que faz qualquer dificuldade parecer mais leve. Você encontrará um jovem soldado, com a adrenalina da novidade correndo nas veias e o peso da responsabilidade no coração. A rotina, as interações, as pequenas vitórias e os desafios formam o pano de fundo para histórias que não são apenas sobre hierarquias, mas sobre a vida em sua essência — cheia de risos, superações e, às vezes, até de absurdos hilários.

 

Em cada capítulo, uma nova descoberta: desde as suas experiências cativantes no curso de massagem, onde a conexão humana se revela reencontro com a empatia, até as conversas profundas e inesperadas com o Coronel Rubens Bayma Denyd, que, ao longo das sessões de massagem, se torna mais do que um comandante, mas um amigo. Sabe aquela sensação de frio na barriga e, ao mesmo tempo, um calor dentro do peito? É assim que cada relato se construirá, com a intensidade de emoções que todos, em algum momento, já sentimos.

 

Prepare-se para conhecer Barbas, o preso que, com suas histórias, faz rir os que têm o semblante carregado pelas pressões do dia a dia. Quantas vezes não nos pegamos refletindo sobre a realidade da liberdade e da prisão? Através dos olhos desse personagem peculiar, você verá que mesmo as situações mais difíceis podem ser entrelaçadas com humor e profundidade. E a amizade? Ah, a amizade inesperada é o que, muitas vezes, nos lembra que as barreiras são apenas construções de nossas mentes.

 

Ao final de cada capítulo, não se surpreenda se você encontrar em suas reflexões questionamentos que o levarão a revisitar a própria vida. O que significa realmente ser livre? Como as experiências, mesmo as mais desafiadoras, moldam quem somos? Esse espaço é seu não só para ler, mas também para sentir, questionar e se deslumbrar com as complexidades das relações humanas.

 

Sinta-se acolhido nas histórias e, acima de tudo, dê-se permissão para se emocionar. Porque esta não será apenas uma leitura; será um banho de sol nas experiências passadas, um convite para recordar e celebrar a vida em suas nuances.

 

Aos poucos, à medida que você se aventurar por estas páginas, espero que sinta o calor de cada lembrança, o perfume de cada amizade e a intensidade de cada lição. Que essa leitura se transforme em um momento seu, de conexão com o espírito que resgata a beleza de viver.

 

Espero que goste da jornada tanto quanto eu gostei em escrevê-la.

 

Ricardo Solano Bastos



Capítulo 1: A Chegada ao 1º Batalhão de Guardas

 

A minha primeira impressão ao pisar no 1º Batalhão de Guardas em 1973 foi como um tapa na cara. O chão de cimento, polido, refletia a luz do sol que lutava para atravessar as nuvens pesadas daquela manhã. O barulho dos meus passos ecoava, quase como uma fanfarra solene anunciando minha chegada. O coração batia forte, uma mistura de ansiedade e excitação que eu nunca tinha sentido antes. Eu estava ali, prestes a entrar em um mundo totalmente novo, e a sensação de estranheza me abraçava como um cobertor pesado.

 

Logo, uma onda de aromas me atingiu, um cheiro reconfortante de café recém-passado que vinha da cantina. A lembrança de um café da manhã no quintal da minha avó bateu em mim como uma música antiga. Ah, a simplicidade daquele momento, como o aroma do café encorpado, quente, me envolvia. Não pude deixar de sorrir ao me lembrar. “Esse aqui é o verdadeiro luxo do exército,” pensei, enquanto observava mais de perto os soldados em seus uniformes bem alinhados, as faces sérias, mas, de alguma forma, ainda intrigantes. Aqueles rostos homens e mulheres eram um misto de disciplina e juventude, cada um carregando suas próprias histórias, seus medos, suas esperanças.

 

Um colega, que conheci rapidamente — o Eduardo, um cara de sorriso largo e risada fácil — se aproximou e lançou um olhar curioso. “Então, o que você achou da nossa casa?” perguntei. A resposta dele? Um riso envergonhado: “Ah, você vai se sentir bem aqui, desde que consiga passar pelas sargentos. Eles são mais exigentes que a mamãe!” O jeito leve com que Eduardo falava me arrancou uma risada e dissolveu um pouco da tensão que eu sentia.

 

Esse era o tom que esperava encontrar: uma leveza nas conversas, mesmo com toda a seriedade do ambiente. As interações estavam ali, pulsando como o próprio coração do batalhão. Esse toque de humor, essas provocações amigáveis, deixavam claro que, apesar da rigidez das regras, havia espaço para uma camaradagem que prometia ser o alicerce de minha nova realidade.

 

Enquanto caminhava pelo pátio do batalhão, os edifícios se erguiam imponentes, como se fossem guardiões silenciosos das vidas que ali passariam. O panorama era intenso, massivo e, de certo modo, reconfortante. Uma sensação de pertencimento, quase inexplicável, começou a espalhar-se dentro de mim. Eu não sabia ainda que, naquele lugar, histórias seriam contadas e laços inquebráveis poderiam se formar.

 

Olhei para o céu cinza e, de repente, a imagem do café da manhã na casa da minha avó voltou à mente. Era surpreendente como aquelas memórias podiam me dar força em um momento como aquele. Afinal, todos nós temos algo que nos conecta às nossas raízes, mesmo em circunstâncias totalmente inesperadas.

 

Cada passo que eu dava dentro daquele batalhão me fazia sentir mais próximo do futuro que aguardava, com todas as suas incertezas e promessas. Quem diria que um mero dia no quartel começaria uma jornada que mudaria a minha vida para sempre? E ali estava eu, pronto para enfrentar aquilo, mesmo que o frio na barriga insistisse em me lembrar do meu nervosismo. A vida, pensei, estava apenas começando.

 

Era 1973, e enquanto eu atravessava os portões do 1º Batalhão de Guardas, a atmosfera do Brasil se sentia vibrante e tensa. Certa vez, um amigo que tinha um jeito inconfundível de ver o mundo — sempre com uma pitada de humor, diga-se de passagem — disse que o Exército era como um microcosmos da sociedade, e agora eu estava prestes a experimentar essa analogia em sua plenitude.

 

Um profundo olhar em volta revelava não apenas os uniformes alinhados e a postura rígida dos soldados, mas também um universo de esperanças e frustrações fundidas com as incertezas do país. A Ditadura Militar, com seu ar opressivo, desenhava um cenário desconhecido e, ao mesmo tempo, intrigante. O cotidiano do quartel não acontecia em um vazio, mas em meio à sombra de um governo que controlava as vozes e, muitas vezes, silenciava os sonhos. Essa contradição pairava no ar, como o aroma do café fresco que permeava o ambiente — reconfortante, inspirador, ao mesmo tempo que carregava um peso invisível.

 

Lembro-me de uma conversa que tive com um sargento, um homem de voz firme e olhos que pareciam ter visto coisas que não podiam ser contadas. Ele falava sobre os desafios da rotina militar, mas a maneira como fez isso, entre risadas e um toque de reverência, me fez perceber que existia humor, mesmo em tempos sombrios. “No fundo, garoto, o que a gente aprende aqui é a se virar, não importa a situação. E se você não encontrar uma forma de rir, vai acabar se perdendo,” ele me disse enquanto me guiava pelo pátio.

 

Nessa nova realidade, as memórias daquele tempo se tornaram como imagens projetadas em uma tela. A tensão dos treinos, os toques de corneta que ecoavam pelo ar e as vozes de camaradas se unindo em cânticos das tropas misturavam-se à polêmica do momento. O Jornal Nacional, que eu escutava em casa, não falava apenas de guerras e prisões políticas. Ele também trazia histórias daqueles que sumiram — a sensação era de que cada notícia tinha um peso cruel, evocando um profundo senso de vulnerabilidade entre os soldados.

 

Aliás, a própria estrutura do Exército refletia a sociedade da época. Os mais um pouco mais velhos, por exemplo, eram como avôs que conhecíamos apenas de vista, sem entender totalmente a história que carregavam. Por outro lado, a juventude, à minha volta, pulsava com a expectativa de viver o que prometia ser uma aventura inigualável. Na verdade, eu me vi em um pesadelo de dúvida e curiosidade, questionando se eu faria parte do grande teatro de absurdos que era a vida sob a ditadura.

 

Era evidente que, mesmo dentro das paredes do quartel, havia uma vida fervilhante em cada canto, desde o mais íntimo ao mais grandioso. Conversas sussurradas durante os treinamentos e vislumbres de revolta contida refletiam o espírito de uma juventude que, mesmo em tempos sombrios, buscava se conectar e encontrar um propósito. E assim, aquele ambiente, carregado de suas contradições, moldava não apenas a história do meu país, mas também a minha própria trajetória — cheia de desafios, mas igualmente rica em profundas lições sobre solidariedade, amizade e resiliência.

 

Ao sair de um dia de treinamento, às vezes eu olhava para o céu, imenso e prometedor, e sentia que, apesar de todas as dificuldades do mundo, ali ainda havia espaço para sonhos. Essa combinação de sentimentos intensos e complexos estava prestes a tornar-se a base do que eu seria dali em diante. Uma espécie de clímax emocional estava nas sombras do cotidiano, aguardando para se revelar, e eu — um mero recruta — estava disposto a encontrar o meu lugar neste quebra-cabeça tão multifacetado e fascinante que era o ser humano.

 

A Companhia de Comando e Serviço, conhecida informalmente como "Cama omisa e Sossego", era como um oásis dentro do quartel. Ao contrário da rigidez que permeava a rotina das outras companhias, ali o clima era despretensioso. Lembro-me de entrar naquele setor pela primeira vez. O cheiro do café recém-passado, misturado ao aroma de alguns quitutes que os soldados improvisavam, criava uma atmosfera acolhedora. O ambiente vibrava com risadas e piadas, um contraste evidente ao sério protocolo militar que dominava as demais áreas.

 

Os soldados que trabalhavam ali tinham personalidades distintas, cada um trazendo uma energia singular ao espaço. Havia o Garcia, sempre com seu olhar doce e irônico, que fazia questão de contar sobre um novo truque que havia aprendido na cozinha. Uma vez, ele decidiu fazer um bolo para alegrar a tarde. Foi uma verdadeira batalha; a mistura virou um tipo de massa que, honestamente, desafiava a gravidade. Ele riu ao dizer que, ao menos, havia conseguido criar um novo conceito de "bolo aerodinâmico". A doçura de sua maneira de lidar com as situações ajudava a aliviar a pressão diária.

 

Por outro lado, tínhamos o Reinaldo, um cara que levava a vida com uma seriedade digna de um oficial. Ouvia suas histórias com um sorriso, enquanto ele falava sobre seus planos para a vida depois do serviço militar. Havia algo inspirador em sua determinação, mas também uma pitada de melancolia, como se ele soubesse que o tempo ali também tinha suas limitações. Era um lembrete constante de que, mesmo em meio a tanta descontração, havia objetivos a serem cumpridos.

 

Um dia, enquanto estávamos em uma pequena pausa, fizemos uma competição amistosa de quem conseguia contar a piada mais hilária. Eu me lembro de ter começado com uma que tinha ouvido no ônibus, sobre um papagaio que se perdeu. Garcia me interrompeu com uma versão de um mal-entendido entre soldados, que era ainda mais divertido. O riso ecoava, e naquele instante leve, percebi como aqueles momentos de camaradagem eram essenciais. A conexão ali formada era poderosa, um laço que, mesmo sob a pressão da estrutura militar, resistia.

 

Às vezes, o silêncio em que nos encontrávamos após as brincadeiras falava mais do que qualquer conversa. Eram momentos de reflexão. Olhando ao redor, vi aqueles rostos sérios agora relaxados, compartilhando segredos. Cada um trazia uma história, um sonho, uma insegurança. A companhia se tornava a família que eu não sabia que precisava. Olhando para eles, sentia um calor reconfortante, como se estivesse finalmente encontrando meu lugar naquele novo mundo.

 

A rotina naquela Companhia tinha suas peculiaridades. Sempre havia algo inusitado que acontecia. Em um dia, decidimos fazer uma pequena gincana improvisada. As tarefas eram absurdas, como criar uma apresentação sobre o que se aprendera no quartel usando apenas canções populares. A combinação de risos e críticas construtivas tornava tudo mais leve. Ao final do evento, muitos de nós estávamos rindo até doer a barriga, e aquela atmosfera tensa que, por vezes, nos envolvia, se dissipava como a fumaça do café no ar.

 

Ali, aprendi o verdadeiro significado de camaradagem e companheirismo. As horas de serviço eram pesadas, mas os momentos descontraídos, as risadas, e até mesmo as frustrações compartilhadas tornavam aquele lugar especial. E mesmo sabendo que os desafios eram intensos, percebi que havia algo maior nos unindo. Era um sentimento de pertencimento, como se estivéssemos todos lutando pelas mesmas causas, formando memórias que, de alguma forma, se tornariam parte de nossas histórias de vida.

 

Os dias no 1º Batalhão de Guardas eram uma mescla de ordens e risadas, um ambiente onde a rigidez da rotina militar se entrelaçava com os laços que se formavam entre os colegas. Logo, percebi que, por trás das fardas alinhadas e dos rostos sérios, existiam jovens homens que, assim como eu, buscavam se encontrar em meio àquelas exigências. Era curioso notar como a cumplicidade surgia em meio ao dever, talvez como um mecanismo de sobrevivência.

 

Certa tarde, enquanto estávamos na fila da cantina, tive uma conversa rápida com o Nascimento, um cara que, fato curioso, sempre fazia piadas nas horas mais improprias. Ele me contou sobre uma competição inusitada que ele e alguns outros soldados tinham criado: a "Olimpíada do Cafuné". A ideia era simular uma competição de quem conseguiria acalmar o outro durante os treinos mais puxados. Eu ri tanto que quase derrubei o prato. Naquela parte do batalhão, o riso se tornava um refúgio; era um momento onde a tensão se dissipava, e as preocupações com os comandos e as ordens se tornavam secundárias.

 

Havia também uma tradição que se formou entre nós durante o intervalo das atividades: um jogo de cartas que, curiosamente, servia mais para descontrair do que para apostar. Numa dessas tardes ensolaradas, nos reunimos ao redor de uma mesa improvisada, e o cheiro do café fresco misturava-se com o das marmitas que trazíamos. Enquanto jogávamos, trocávamos histórias da vida antes do quartel, e esse compartilhamento, de certa forma, nos tornava mais do que simples soldados; éramos amigos. Eram aqueles momentos que, mesmo rodeados por tanta disciplina, traziam uma leveza tão necessária.

 

A amizade se manifestava também nas pequenas atitudes cotidianas. Certo dia, um soldado mais novo, o Júnior, teve um dia particularmente difícil. Ao voltar da instrução, encontrei ele encostado na parede, a expressão derrotada. Me aproximei e, num impulso, brinquei: “Se precisar, podemos pedir um lenço ao quartel para as lágrimas derramadas.” Ele riu, e aquele foi o início de uma conversa que durou horas. Falar sobre as frustrações e as expectativas, rir das nossas incertezas, fez com que eu não só o ajudasse, mas também me sentisse mais conectado a ele. Era incrível como nesse novo mundo, onde tudo parecia enfadonho, a empatia e o companheirismo eram os verdadeiros elixires da vida diária.

 

Com o tempo, percebi que, mesmo nas horas mais desgastantes, havia sempre um motivo para sorrir e um braço amigo para se apoiar. O quartel, com suas obrigações, também era um espaço de crescimento pessoal. Como se estivéssemos todos juntos numa espécie de jornada de autodescoberta, aprendendo a lidar com os limites e as provações, e também a fazer loas às pequenas vitórias.

 

E assim, entre uma ordem e outra, entre treinos e risadas, fomos formando a nossa história, uma colagem de momentos que, embora parecessem comuns, eram recheados de significado. Aquela rotina militar, tão rígida e controlada, se tornava um campo fértil para amizades, resistência e, principalmente, para as memórias que nos acompanharão por toda a vida. O quartel não era apenas um lugar de disciplina, mas um lar temporário que nos moldava e preparava para o que estava por vir, sempre regado a uma dose de camaradagem inestimável.

Capítulo 2: A Vida no Quartel

 

Acordar no quartel é como ser chamado para um espetáculo onde o toque do clarim é a primeira nota. É emocionante e, ao mesmo tempo, um pouco assustador, especialmente para quem ainda está se adaptando a essa nova rotina. Às seis da manhã em ponto, a melodia corta o silêncio, ecoando pelos corredores e acordando cada soldado como se anunciasse um novo dia para lutar, trabalhar e, às vezes, se divertir. A movimentação começa com uma agitação contagiante. Camas se desfazem, botas deslizam pelo chão de cerâmica e o cheiro do café fresco invade o refeitório, um convite reconfortante que mistura-se às conversas alegres.

 

A primeira atividade do dia é uma série de exercícios físicos, e ali, juntos, os soldados se alongam, correm e suam. O ambiente é marcado por risos e provocações, mas também por uma dose de seriedade. O sargento, que ainda exibe uma expressão de poucos amigos, observa o grupo com atenção. Numa manhã nublada, como a que testemunhei certa vez, a energia parecia mais baixa. Os rostos mostravam semblantes arrastados, e as conversas acabavam se tornando sussurros entre as séries de abdominais. Mas, em questão de segundos, o sol apareceu por detrás das nuvens e trouxe consigo um ânimo renovado. Todos se sentiram mais leves, como se a luz tivesse o poder de transformar o dia.

 

Logo após os exercícios, a formação em fila para o café da manhã é quase uma tradição. Em pé, lado a lado, os soldados esperam ansiosamente por sua vez. O refeitório é um lugar pulsante; é aqui que as histórias começam a se formar. Entre um gole de café e outro, almoços improvisados se transformam em debates acalorados sobre o último filme assistido ou a partida de futebol do fim de semana. O cheiro do café quente mistura-se ao aroma dos pães fresquinhos, criando uma atmosfera que faz até os de estômago ranzinza se animarem.

 

Os soldados, alguns ainda com as olheiras de quem passou a noite pensando em casa, recebem os insultos engraçados sobre a disposição para o trabalho. E então começam as marchas ensaiadas no pátio; passos sincronizados em um ritmo hipnótico. Mas não é apenas a ordem que importa ali. Há sempre uma piada ou um comentário solto que acaba por quebrar a formalidade, e um soldado mais brincalhão logo faz todo mundo rir com seus gestos exagerados.

 

Foi em uma dessas manhãs que conheci Pedro, o soldado novato. Ele estava concentrado demais em fazer tudo certo para perceber que seu tênis estava desamarrado. No meio da formação, tropeçou e quase caiu, despertando uma onda de risadas que ressoou pelo pátio. O sargento tentou manter a compostura, mas eu poderia jurar que, por um breve momento, ele esboçou uma risada. Momentos como aquele não só aliviavam a tensão do ambiente, mas faziam com que a camaradagem emergisse entre os soldados, mesmo quando estavam sob a pressão da hierarquia militar.

 

Assim, a vida no quartel se desenrola entre momentos de tensão e descontração. Cada manhã traz experiências novas, cada conversa revela um pouco mais da história de cada um ali. As nuances do dia a dia marinham-se em um molho de amizade e adversidade, moldando soldados e solidificando um laço que se torna, com o tempo, quase inquebrável.

 

A vida no quartel, entre os soldados, tem suas regras, mas também possui uma dinâmica curiosa que se desenrola nos pequenos momentos. Logo ao amanhecer, quando o clarim soa, uma transformação mágica ocorre. As camas, que há instantes estavam desfeitas, se tornam um indicativo de disciplina e ordem. O cheiro do café fresco, exalando pelo refeitório, é um convite à confraternização. Ali, ao redor da mesa, soldados se reúnem, compartilhando risadas e provocações enquanto sussurram sobre a noite anterior. É nesse ambiente caloroso que as hierarquias ficam um pouco mais leves, e o que poderia ser um dia austero ganha um toque de leveza.

 

Com o passar das horas, a rotina se torna um desfile de atividades diversas. As formações em filas, os exercícios físicos e as marchas ensaiadas no pátio, todas essas rotinas são intercaladas por pequenas interações que tornam a experiência tão rica. Há sempre aquele soldado que, ao invés de fazer a contagem correta, solta uma piada despretensiosa. Sinceramente, quem diria que um simples "um, dois, três" poderia fazer todos rirem? A camaradagem se cimenta nesses momentos, em que os desafios do treinamento se tornam mais suaves pela companhia dos colegas.

 

As interações entre soldados de diferentes patentes se apresentam como um leque de possibilidades, expressando até mesmo um certo grau de informalidade. Um sargento, por exemplo, na tentativa de ser mais próximo, solta um elogio inesperado ao novato que errou uma ordem. "Ei, garoto, se você continuar assim, vai nos fazer rir mais do que lutar." A situação provoca reações várias, algumas risadas, olhares trocados e até uma certa solidariedade. Lembro-me de um tenente que, ao tentar ensinar uma ordem nova de combate, acabou se atrapalhando e, sem querer, confundiu um nome técnico com o de um mascote da unidade. Aquilo se tornou uma lenda, um ponto de alegria entre os soldados.

 

Um desses novatos, bem-intencionado mas desastrado, gerou situações engraçadas enquanto tentava se encontrar em meio a tantas regras. Um dia ele se esqueceu de trazer as armas para o treinamento e voltou correndo para pegar, enquanto seus companheiros não paravam de rir e gritar: "Quem precisa de inimigos quando temos o Carlos!" Essas trocas se tornam intrigantes, revelando não só a fragilidade dele, mas também a leveza do dia a dia em um ambiente que, por fora, é tão rigidamente militarizado.

 

Mas é claro, entre as diversões e os risos, há um subtexto mais profundo. Soldados também sentem a pressão que vem do desejo de provar seu valor. Encontrar um equilíbrio entre a hierarquia e a camaradagem exige tempo e sensibilidade. Conversas que parecem levianas, como as piadas sobre o novato perdido, na verdade escondem uma necessidade de pertença, de aprovação. Existe um apoio implícito que flui entre os homens e mulheres, onde cada um conhece as vulnerabilidades do outro e as respeita. Esses laços se tornam um alicerce essencial, por trás da rotina pesada, onde às vezes o medo se apresenta. É reconfortante saber que, mesmo nos momentos de insegurança, há sempre aquele amigo para um apoio sincero e uma palavra de incentivo.

 

E assim, entre os risos e desafios, entre o toque do clarim e o cheiro do café, a vida no quartel se transforma em um espaço de crescimento, aprendizado e, acima de tudo, camaradagem. Cada momento traz uma nova história, cada dia uma nova lição, e é nesse emaranhado de vidas que se revela a verdadeira essência do serviço militar.

 

A pressão formada pela rotina militar é uma sombra constante nos corredores do quartel. A busca pela perfeição se transforma em uma espécie de mantra, onde cada jovem soldado anseia por corresponder às expectativas dos superiores e, é claro, de si mesmo. As horas são muitas, o cansaço bate à porta de maneira implacável, e a frequência dos exercícios físicos intensos só faz aumentar essa sensação de ser sempre observado, avaliado. O que parecia ser uma grande aventura nas primeiras semanas, agora se revela um desafio diário, um teste à força de vontade e à resiliência.

 

São momentos em que, numa fila na cantina, você pode perceber os olhares ansiosos dos companheiros. Alguns disfarçam bem, mas é impossível ignorar a saudade que espreita debaixo da superfície. Às vezes, um simples lembrete de casa – uma foto, uma lembrança – sabe como abrir feridas. O que quereríamos com mais frequência é uma conversa sincera sobre esses sentimentos. E isso acontece, por mais incrível que pareça. Nos intervalos dos treinos, em meio a piadas e sorrisos, as conversas se tornam confissões. “Sabe, eu sinto falta da minha avó fazendo aquele bolo de cenoura,” alguém diz, e todos assentem, solidários. Essas pequenas conversas carregam uma profundidade que só se revela quando a vulnerabilidade aparece, quando as armaduras de soldados se tornam finas.

 

E quando um colega se mostra mais inseguro, é um impulso natural o oferecer uma palavra de encorajamento. A camaradagem manifesta-se. Lembro-me de uma vez em que um soldado, que era conhecido por suas ansiedades, ficou paralisado durante um exercício tático. O terceiro sargento, com sua voz grossa, ao invés de gritar e desmerecer, simplesmente se aproximou e disse: “Ei, respira, você consegue.” Essa atitude simples fez com que o clima mudasse ali. O restante do grupo imediatamente se mobilizou em apoio. Uma mão no ombro, alguns “Estamos juntos nisso” foram suficientes para transformar um momento de fraqueza em um em que o companheirismo e a coragem floresceram.

 

Esse é o outro lado da moeda: há um bom número de desafios físicos, claro, mas há também a luta interna, uma batalha muitas vezes mais difícil. Enquanto tentamos superar as dificuldades físicas e nos adequar à rotina, também enfrentamos a necessidade de comprovar constantemente que somos capazes. A busca por aprovação é um fardo que parece crescer a cada dia. As inseguranças se acumulam, e com elas uma pressão quase insuportável para se destacar, não só para provar o próprio valor, mas para não desapontar aqueles que acreditam em nós.

 

Conforme as semanas passam, a vida no quartel torna-se uma mescla de humor e superação. É interessante como pequenos gestos ajudam a aliviar a tensão. Recordo-me de um momento emblemático. Foi numa sexta-feira, após uma semana exaustiva de treinos. O clima estava tenso, e tudo parecia pesado. Naquela noite, decidimos preparar um “perdido” com o jantar. A ideia era fazer algo inesperado, um prato que não tinha sido previamente planejado – um verdadeiro “mestre-cuca” do quartel. Formamos uma verdadeira equipe de chefes improvisados. Entre gritos de "cuidado com o fogo" e "isso não era para estar aqui", a cozinha se transformou em uma bagunça hilária. Rimos tanto que, por alguns momentos, os desafios e as inseguranças se dissiparam, e o quarto se encheu de um sentimento leve, quase como um milagre.

 

Essas vivências, entrelaçadas com desafios e amigos próximos, solidificam laços que vão além da amizade. Elas se transformam em uma irmandade, um sentimento profundo de estar no mesmo barco, remando para o mesmo destino, enfrentando tempestades e dias ensolarados lado a lado. Às vezes, eu parado, refletindo durante um momento de silêncio, percebo que cada um deles traz uma história, um mundo único. Cada um, carregando suas esperanças e medos, está ali para apoiar o outro. Isso é o que torna a vivência no quartel singular: a insistência em continuar, em se apoiar mutuamente e em descobrir que, mesmo nas horas mais difíceis, sempre há um jeito de ficar mais forte juntos. E isso é verdadeiramente reconfortante.

 

As noites no quartel eram marcadas por uma rotina que, mesmo repleta de cansaço, trazia conforto. Em meio ao silêncio quebrado apenas pelo eco de risadas, os soldados se reuniam em volta da mesa da sala comum, um espaço que se tornava o coração pulsante daquela instituição. Era ali, com a luz amarelada das lâmpadas e o cheiro do macarrão instantâneo que um colega tinha trazido, que histórias eram compartilhadas, e a camaradagem se aprofundava.

 

Certa vez, um dos soldados, conhecido por sua comicidade natural, decidiu organizar um "desafio" à la esportiva. Era simples: quem conseguiria fazer o sargento rir durante a inspeção matinal. Aquilo poderia soar como uma ideia arriscada, mas a adrenalina da brincadeira contagiou a todos. Havia um misto de medo e expectativa; já imaginou se, durante uma ordem perfeita e séria, a inocente piada quebrasse a fachada disso tudo? Sem pensar duas vezes, os soldados começaram a se preparar.

 

Na manhã seguinte, o clarim soou, e sob a luz tímida do dia, as formações eram alinhadas. O tenente olhava de forma rigorosa, mas era impossível não notar a expressão pensativa dos soldados. Assim que o sargento começou a inspecionar as fileiras em passo firme, um dos novatos, um rapaz de sorriso fácil, fez uma imitação de um famoso personagem de televisão. A primeira risada ecoou como um milagre em meio a tantos rostos sérios, levando o humor a contagiar o ambiente de forma surpreendente. O sargento se virou, um olhar de confusão misturado com a incapacidade de reprimir a risada, que se transformou em uma explosão de alegria. Ele acabou não conseguindo segurar a pose e, mesmo em meio ao severo tom de voz, acabou soltando uma brincadeira casual que fez todos despenharem em gargalhadas.

 

Esses momentos eram um bálsamo em dias repletos de exercícios rigorosos e deveres a cumprir. Outro episódio memorável envolveu o banjo que um sargento tocava com frequência. O instrumento, é claro, tinha suas próprias histórias a contar. Em uma tentativa de aliviar a tensão após um dia particularmente punitivo, um grupo de soldados planejou uma travessura: esconder o instrumento, tornando-se mestres na arte de burlar a atenção. A proposta gerou murmúrios de excitação e um pequeno esquema clandestino começou a tomar forma. Na calada da noite, entre sussurros e risos contidos, conseguiram ocultá-lo de forma engenhosa.

 

A expectativa das reações impossíveis refletia na expressão das pessoas, uma mistura de antecipação e nervosismo. Quando o sargento acordou de seu sonho musical e se deu conta do desaparecimento de seu amado banjo, a situação avançou rapidamente para um estado quase cômico. A falha no seu tom de chamada se mesclava a um tom de incredulidade enquanto chamava todos, entre risos nervosos, para uma busca implacável. Em pouco tempo, a história do “banjo desaparecido” se transformou em uma lenda no quartel.

 

Essas travessuras, apesar da gravidade que o ambiente militar poderia parecer, eram cruciais para a manutenção da saúde mental dos jovens soldados. O riso surge como uma forma poderosa de lidar com a pressão constante, ajudando a construir laços que vão além de meras obrigações. Na verdade, foram esses momentos de descontração que formaram um verdadeiro exército de amigos, gente que se apoiava, que ria e chorava juntos. Se lá fora o mundo parecia um lugar ameaçador, dentro do quartel havia um resguardado oásis de camaradagem e humor, um lugar onde a amizade era a verdadeira arma para superar os desafios que se apresentavam.

 

Com o sol se pondo, os soldados se reúnem novamente, contando histórias, compartilhando risadas, celebrando o que passaram juntos. O senso de união que nasce nesses pequenos momentos se transforma em uma fortaleza emocional que os prepara para o que estava por vir. Afinal, quando o dia termina e a noite chega, o espírito de se ajudar mutuamente entre os soldados se faz essencial, costurando uma tapeçaria única de experiências que será lembrada com carinho e, quem sabe, um sorrisinho nos lábios por muitos anos.

Capítulo 3: O Curso de Massagem no Instituto Benjamin Constant

 

Decidir me inscrever no curso de massagem no Instituto Benjamin Constant foi, sem dúvida, uma daquelas escolhas que mudam a trajetória da vida da gente. O que parecia, à primeira vista, uma ideia estranha, começou a amadurecer em minha mente de uma forma cativante e intrigante. Vejo essa decisão como uma junção de momentos que se entrelaçavam – um fio invisível que, ao ser puxado, revelou um novo caminho a ser percorrido.

 

Lembro-me de uma tarde em particular, quando conversava com um amigo sobre as dificuldades que ele enfrentava para encontrar alívio para as dores musculares. Ele, que sempre gostou de esportes, se via numa maré de frustração. A frase dele ecoou em minha mente: “Se ao menos alguém soubesse fazer uma massagem de verdade.” Naquele instante, uma ideia clara se formou. Por que não aprender a ajudar os outros dessa maneira? Foi como se uma luz tivesse se acendido, guiando-me para uma nova abordagem na vida. O que poderia ser mais reconfortante do que aliviar a dor de alguém?

 

Enquanto alguns pensariam que essa escolha poderia ser uma fuga ou uma curiosidade passageira, eu via algo mais profundo. A massagem sempre foi, para mim, uma forma de ligação. Eu me recordava das massagens que minha avó me dava quando eu era criança, um ato simples que trazia uma onda de paz e carinho. E assim, a ideia de inscrever-me no curso começou a parecer não só intrigante, mas também essencial.

 

Sinceramente, basta olhar para o que me motivou a isso: uma combinação de empatia, vontade de aprender e, quem sabe, um toque de desejo de fazer a diferença na vida das pessoas. Embora a ideia de tocar em corpos, de aplicar técnicas manuais parecesse um tanto intimidadora, a promessa de oferecer alívio e conforto se mostrava irresistível. Aliás, que humor involuntário estava presente em mim! Afinal, quem diria que eu, um ser tão desajeitado que frequentemente se esbarrava nas coisas, me veria como um futuro massagista?

 

Assim, ao me inscrever no curso, a expectativa misturava-se à apreensão. Quando fui aceito, um misto de alegria e nervosismo tomou conta de mim. Eu estava prestes a entrar numa nova fase da minha vida, uma jornada que desafiaría minhas habilidades e ampliaría minha compreensão sobre o que significa cuidar do outro. E foi nesse contexto, repleto de incertezas, que me lancei. O Instituto Benjamin Constant prometia não ser apenas um lugar de aprendizagem, mas um espaço de transformação. E, veja só, mal sabia eu que, a partir daquele momento, minha vida encontraria novos significados, tanto no âmbito profissional quanto nas minhas relações pessoais.

 

O curso de massagem no Instituto Benjamin Constant se revelou um espaço encantador, envolto em uma atmosfera que unia aprendizado e acolhimento. Desde os primeiros momentos, a luz suave que filtrava pelas janelas parecia abraçar cada canto do ambiente, enquanto o aroma do óleo essencial de lavanda pairava no ar — um convite ao relaxamento e à conexão. Era como se cada detalhe estivesse cuidadosamente projetado para nos fazer sentir à vontade, criando um cenário perfeito para a descoberta de novas habilidades.

 

Os alunos eram uma mistura intrigante de histórias e experiências. Haviam sorrisos nervosos, olhares curiosos e um clima contagiante de camaradagem. Durante as aulas, não era incomum ouvir risadas no meio de tentativas desajeitadas de aplicar técnicas de massagem. Uma vez, enquanto tentava demonstrar a manobra de deslizamento, deslizei as mãos de forma tão pouco elegante que acabei fazendo meu colega cair para trás em uma explosão de risadas. Ao ver sua expressão surpresa, percebi que a massagem não era apenas sobre técnica, mas também sobre se deixar levar pelos momentos inesperados, um verdadeiro aprendizado sobre leveza e humor.

 

À medida que as aulas avançavam, cada sessão se tornava mais do que um simples ato físico. Aprendi que a massagem é uma expressão de cuidado e afeto. Quando colocamos as mãos em alguém, é como oferecer um pedaço de nós mesmos. Em uma das práticas, atendi uma colega que tinha acabado de passar por uma fase difícil em sua vida pessoal. À medida que os meus dedos deslizavam pelas suas costas, senti que havia algo profundo se estabelecendo entre nós — não era apenas o toque, mas uma conexão que transcendeu palavras. O que poderia parecer uma mera técnica se transformou em um ato de empatia, uma forma de mostrar que estávamos ali uns para os outros.

 

O respeito pelas limitações e particularidades de cada um se tornou evidente. A interação com colegas deficientes visuais trouxe olhar mais apurado para nuances da comunicação e da sensibilidade. Logo percebi que não se tratava apenas de como aplicar os movimentos, mas de como estar presente de uma maneira genuína. Uma das professoras, uma mulher cativante com uma risada calorosa, contou-nos sobre como sua própria vida tinha sido transformada pela massagem. Ela compartilhou uma história sobre um aluno que havia se tornado um massagista de sucesso mesmo diante de desafios imensos. Ao ouvir isso, senti um frio na barriga — era um milagre completo encontrar força e superação em meio a dificuldades.

 

Naqueles momentos, aprendi a importância do toque cuidadoso, da paciência e do entendimento. Eu levava para casa não só as habilidades técnicas, mas algo mais profundo e significativo. Cada aula era uma nova oportunidade de crescimento, cada prática uma chance de refletir sobre o que realmente significava cuidar do outro. O ambiente no Instituto era como um abrigo — um lugar onde se podia errar, aprender, rir e, acima de tudo, encontrar um senso de comunidade que aquecia o coração.

 

Assim, minha jornada no curso foi moldada não só por técnicas e aulas, mas por cada interação, por cada risada — até mesmo pelos tropeços, que se tornaram parte da experiência. Aprendi que a massagem vai além do toque: é um diálogo silencioso entre corpo e alma, uma dança delicada que carrega a essência de ser humano. A cada semana, eu me sentia mais cativado por esse universo, transformando minha percepção e me aproximando de um entendimento mais rico sobre as conexões humanas. A vida, ali, começava a fazer mais sentido.

 

A experiência no Instituto Benjamin Constant revelou-se uma verdadeira jornada de transformação. O envolvimento com a comunidade de deficientes visuais foi um marco decisivo na minha trajetória. Desde o primeiro dia, ao entrar naquele ambiente acolhedor, pude sentir a energia vibrante de aprendizado e troca. O cheiro do café fresco na cozinha, misturado com o som das conversas animadas, criava uma atmosfera que traduzia um senso de pertencimento. Era como se cada aluno chegasse com uma história única, pronta para se entrelaçar com a de outros, formando um tecido rico de experiências compartilhadas.

 

As interações não se resumiam apenas a trocas de técnicas de massagem. Cada conversa, cada risada nas aulas, cada desafio superado em equipe, ensinou-me sobre a essência do respeito e da empatia. Lembro-me de um colega, Lucas, que com total tranquilidade e um sorriso no rosto, contava sobre sua rotina e a forma como enfrentava as dificuldades do dia a dia. Ele me ensinou que a força não está apenas nas partes do corpo que funcionam perfeitamente, mas também na capacidade de fazer o melhor com o que se tem.

 

Uma das lembranças mais vivas foi durante uma aula prática. Tentávamos nos familiarizar com o corpo humano, entendendo como os sentidos funcionam de maneiras diferentes. Um dos professores, sempre com uma abordagem leve, propôs um exercício inusitado: massagear alguém vendado. O desafio era não apenas aplicar a técnica, mas conectar-se com a outra pessoa de uma forma mais profunda. Lembro de ter massageado um colega que nunca tinha sentido um toque dessa forma antes. A intensidade da experiência foi imensurável. Os sorrisos, as falas surpresas e as palmas no final da aula eram o tipo de recompensa que palavras não podem descrever. A sensação de estar fazendo algo bom, algo que trazia conforto e alívio, esteve presente ali, borrando as linhas entre aluno e professor, entre o que é apenas aprendizado e o que é cuidado verdadeiro.

 

Essas experiências contribuíram imensamente para a minha compreensão do mundo. A visão que antes eu tinha, muito centrada no próprio espaço, começou a se alargar. Ao observar como a comunidade lidava com suas diferenças, fui desafiado a olhar para dentro também. Reflexões sobre meu próprio cotidiano, minha própria rotina de trabalho, as pequenas queixas, se tornaram meras sombras diante da resiliência e da alegria genuínaço que encontrava ali. A presença daqueles alunos gerava um ambiente de leveza que não se via em qualquer lugar. Era difícil não sorrir junto quando alguém contava uma piada, por mais simples que fosse.

 

Ainda mais impressionante foi perceber o impacto que essa vivência teve em mim. O que começou como um mero curso sobre técnicas de massagem se transformou em um caminho de aprendizado sobre a vida. Cada interação, cada toque, cada risada tornou-se um pedaço do meu cotidiano, moldando minha visão de mundo. A partir dali, eu não apenas desejava aplicar uma massagem técnica; eu buscava oferecer um momento, um espaço de tranquilidade e cuidado.

 

Esses momentos de conexão, onde a habilidade de ser um cuidador se unia à empatia, mostraram-se fundamentais. A massagem foi uma porta, mas estava cheia de aprendizados inesperados. Naquele instituto, percebi que o verdadeiro poder da massagem vai muito além do alívio físico, é uma linguagem silenciosa que comunica amor e respeito, uma forma de dizer "eu vejo você" de uma maneira intensa e única. E por tudo isso, sinto que cada um desses alunos deixou uma marca profunda em mim, tal como um bom livro que não desgruda da nossa memória.

 

O aprendizado que adquiri no curso de massagem transformou-se em um alicerce fundamental na minha vida no Exército. Ao longo dos dias, percebi que as habilidades que desenvolvi eram mais do que meras técnicas aplicadas em corpos; eram uma forma poderosa de conexão e cuidado. Em várias ocasiões, os desafios que encontramos na rotina militar pareciam ser mais amenos quando podíamos desabafar e relaxar uns com os outros, pelo menos por alguns instantes. Eu costumava ver um colega, o Almeida, que sempre estava tenso após uma semana intensa de exercícios. Conhecendo o poder das mãos, decidi praticar aquelas técnicas de massagem nele.

 

Ao sentar-me ao seu lado, com tamanha expectativa de oferecer um alívio, lembro de como suas feições se suavizaram quando inicie o movimento. Foi quase como um milagre gradual. O ambiente ao nosso redor, com o cheiro de café fresco misturado ao perfume do suor do dia a dia, trazia uma sensação reconfortante. Durante aquele momento, a camaradagem fluiu como um rio tranquilo, trazendo para fora conversas que normalmente fiquem submersas sob a pressão do nosso cotidiano. Almeida se abriu sobre suas frustrações, e ali, naquelas palavras, havia um sentimento de empatia genuína que eu nunca havia sentido antes.

 

Meus instrutores no Instituto Benjamin Constant haviam enfatizado que a massagem não é apenas técnica; trata-se de uma prática profundamente humana. Para cada movimento, cada toques que eu praticava, havia por trás o desejo de levar conforto. Essa compreensão se refletia na forma como interagia com meus colegas. Em um dia particularmente difícil, por exemplo, organizamos uma pequena roda de relaxamento na base. A ideia era simples, mas a implicação era profunda. É o que faz o ambiente do Exército tão especial, essa capacidade de cuidar do outro, de ajudar a superar as tensões do dia, mesmo que por um breve momento.

 

Era interessante notar como, aos poucos, os laços entre nós se tornavam mais fortes. Certa vez, após uma série de exercícios desgastantes, uma brincadeira espontânea sobre como fazer um "dia do spa" militar resultou em risadas contagiantes e, para minha surpresa, um pedido sincero para que eu trouxesse um pouco das minhas habilidades para as próximas sessões de treinamento. Fiquei pasmo. Como algo tão simples e, ao mesmo tempo, tão intenso poderia ser tão impactante?

 

Esses momentos não apenas facilitaram a formação de um ambiente mais colaborativo, mas também moldaram a minha identidade dentro da instituição. A prática de massagem me permitiu ancorar minha visão de liderança e respeito ao próximo, transformando uma mera habilidade em uma ferramenta para construir relacionamentos. Eu via cada toque como um passo a mais na construção do que significa ser parte de algo maior do que nós mesmos.

 

Às vezes, penso em como a vida pode nos proporcionar lições inesperadas em lugares e contextos estranhos. O curso de massagem, que começou como uma empreitada um tanto curiosa, floresceu em um aspecto essencial da minha jornada no Exército. Essa habilidade me ajudou a me tornar não apenas um melhor profissional, mas, mais importante, um ser humano mais consciente e aperfeiçoado nas interações. Assim, carregava comigo não só técnicas de massagem, mas uma nova perspectiva sobre o que significa cuidar e se importar.

Participei de vários torneios de tênis das Forças Armadas  viajei muito graças  ao meu Titulo de Massagista Pessoal do Coronel.

Capítulo 4: O Encontro com o Coronel Rubens Bayma Denyd

 

Era um dia comum, mas a atmosfera na sala de comando tinha um quê de especial que a tornava eletricamente vibrante. O sol filtrava-se por pequenas janelas, trazendo uma luz suave que dançava com as sombras, quase como uma orquestra bem ensaiada. O cheiro do café fresco, recém-passado, flutuava no ar, misturando-se com a adrenalina que permeava o ambiente. As conversas baixas entre os soldados, misturadas a risadas nervosas e sussurros, criavam uma sinfonia peculiar que aumentava minha expectativa e ansiedade. Lembro de estar lá, com um frio na barriga como se estivesse prestes a subir ao palco pela primeira vez, as mãos suando levemente enquanto eu aguardava o momento em que finalmente conheceria o Coronel Rubens Bayma Denyd.

 

A espera parecia interminável, e no fundo, eu sabia que aquela figura era mais do que apenas um líder militar. Mais cedo, escutei comentários que variavam entre o sussurrado respeito e uma admiração genuína. Ele era conhecido por sua habilidade de comandar com um equilíbrio impressionante de firmeza e humanidade. Enquanto essas visões passavam pela minha mente, cada instante parecia um pequeno milagre se desenrolando lentamente.

 

E então, como se o universo estivesse conspirando para que aquele encontro fosse um marco, o Coronel entrou. Sua presença era inegavelmente marcante, quase como se ele tivesse um halo que iluminava o espaço ao seu redor. Caminhava com confiança, os passos firmes e decisivos, mas havia uma leveza em como ele se movia — não aquele peso de uma hierarquia imposta, mas sim uma segurança que convidava ao respeito. Quando seus olhos encontraram os meus, uma mistura de nervosismo e admiração me invadiu e, numa fração de segundo, percebi que estava diante de um homem que não era apenas um Coronel, mas um líder que deixaria uma marca indelével na minha vida.

 

“Bom dia a todos,” disse ele com uma voz robusta, mas carregada de calor. “Espero que estejam prontos para o dia que temos pela frente.” Nesse instante, todos os olhares se voltaram para ele, e na sala, houve um silêncio quase reverente. Eu não perdi a chance de observar seus gestos; o jeito como ele usava as mãos para enfatizar suas palavras era quase hipnotizante. Senti que estava, de alguma forma, fazendo parte de algo muito maior e, confesso, era um tanto intimidador.

 

No momento em que nos cumprimentamos, a energia do ambiente mudou. Seu aperto de mão era firme, mas a forma como olhava para mim parecia transmitir mais do que uma simples saudação; era como se ele estivesse avaliando não apenas meu exterior, mas algo mais profundo, uma essência. E, ao mesmo tempo, pensei: “Quem sou eu para ocupar esse espaço? O que um massagista pode realmente oferecer a um Coronel tão respeitado?”

 

Naquele primeiro contato, as palavras que ouvi, e o jeito enérgico do Coronel, emergiram como uma verdadeira lufada de ar fresco. Era como entrar num café acolhedor em uma manhã fria; você sente imediatamente o calor e um desejo de se aconchegar, de absorver tudo ao seu redor. O Coronel, com sua aura cativante, parecia ser o epicentro daquela atmosfera envolvente.

 

O que o destino me reservava após aquele primeiro encontro? Com as memórias do dia fervilhando na minha mente, percebi que estava prestes a entrar em uma experiência que eu jamais poderia ter imaginado. E quem diria que uma sala de comando poderia ser um lugar onde se plantam as sementes de transformações profundas?

 

O Coronel Rubens Bayma Denyd não era apenas um líder; ele era uma força da natureza. Quando adentrei a sala de comando e me deparei com sua presença, não pude deixar de sentir um misto de emoção e respeito. Ele tinha esse jeito único de prender a atenção, como se cada palavra que saísse de seus lábios fosse vital. A energia daquela sala era palpável, e o aroma do café recém-passado flutuava no ar, criando um ambiente que, de algum modo, parecia convidar à reflexão. O Coronel, com seu jeito carismático e olhar penetrante, emanava uma aura que despertava tanto admiração quanto uma leve ansiedade. Naquele momento, tive um frio na barriga que, juro, senti nos dedos dos pés.

 

Ele era marcado pela firmeza em sua postura, mas era a humanidade que se escondia por trás de cada ordens que o tornava irresistivelmente cativante. Lembro-me de um discurso que ele fez, que ficou gravado na minha memória como uma pintura vívida. Ele falava sobre a unificação do batalhão, destacando a importância de, em momentos de adversidade, encontrar força não apenas em si mesmo, mas também em cada membro da equipe. Suas palavras eram como um hino, e consegui visualizar cada um dos soldados, com os olhares fixos e corações pulsando mais rápido, sendo edificados por aquela mensagem poderosa. Ele sabia tocar os nossos pontos sensíveis.

 

A maneira como o Coronel equilibrava a firmeza e a humanidade era um espetáculo à parte. Em certo momento, em um intervalo, trocamos algumas palavras rápidas, e sua voz grave, quase um sussurro de um segredo compartilhado, fez com que a responsabilidade de sua posição que carregava parecesse verdadeira e até mesmo vulnerável. Eu não esperava isso dele; ali estava um homem que não se embrenhava apenas em ordens, mas alguém que se importava com a vida dos que estavam sob seu comando. Ele não temia mostrar suas inseguranças. Um líder que admite fragilidades de alguma forma se faz mais forte diante de seus comandados.

 

Me peguei pensando na profundidade do papel que ele desempenhava. Não era apenas um Coronel; era um mentor, uma âncora em meio ao caos. Nos dias seguintes, a cada mensagem que trocávamos, sentia um laço se formando. Um respeito mútuo estava sendo cultivado, uma ponte que transcendeu a hierarquia militar, erguendo-se sobre o alicerce da empatia. Ele compartilhava seus desconfortos, como se estivesse abrindo uma porta, e eu, automaticamente, tentava reciprocá-lo.

 

Dentro da sala, as conversas que se iniciavam em condições quase formais rapidamente se tornavam diálogos sinceros e francos. Um gesto tão simples como um cumprimento se transformava em uma troca enriquecedora, onde ambos aprendíamos mais um sobre o outro. Era como se, ao me tornar o massagista do Coronel, eu tivesse ganhado acesso a um mundo que não esperava explorar. Por trás de cada expressão de autoridade, havia um ser humano buscando compreender e se conectar, e isso, ah, isso era extremamente impressionante.

 

Enquanto observava sua liderança em ação, não pude evitar uma reflexão profunda sobre como as melhores lideranças se entrelaçam com a humanidade. A figura do Coronel transformava-se diante de meus olhos, desafiando qualquer estereótipo que poderia ter em relação a oficiais militares. Ele não era apenas um comandante; ele era alguém capaz de amar suas tropas, de se importar genuinamente com o bem-estar delas. Isso me deixava, por dentro, pensando no que significava realmente ser um líder.

 

Para quem o observasse, a imagem dele poderia ser de um tradicional Coronel, mas ali havia muito mais. Sua capacidade de inspirar, de tocar, de provocar emoções era uma dança sutil entre a força e a vulnerabilidade. Ao final de um dia exaustivo, ele jamais deixava de se aproximar de mim, com um olhar que pedia mais que um mero apoio físico; havia aí a busca por conexão, por humanidade em meio ao rigor das normas e disciplina.

 

Nunca imaginei que essa relação provocaria transformações tão profundas na forma como eu via os outros, e, mais ainda, a mim mesmo. Afinal, a liderança e a empatia dançam juntas de maneira sofisticada, e agora, ali naquele cenário, eu tinha o privilégio único de assistir a essa dança de perto. Em cada gesto e palavra, o Coronel Rubens Bayma Denyd desafiava meu entendimento e, portanto, me convidava a uma jornada que estava apenas começando.

 

Eu me vi envolto em um mar de pensamentos enquanto caminhava para o gabinete do Coronel Rubens Bayma Denyd, meu coração pulsando forte na expectativa do que estava por vir. A responsabilidade que estava prestes a assumir como massagista pessoal do coronel não era apenas um desafio externo, mas também uma batalha interna. Havia uma mistura de entusiasmo e um toque de insegurança crescendo dentro de mim. O que exatamente aquele cargo envolveria? Fui tomado por um momento de reflexão, me lembrando de quando era mais jovem, sempre buscando formas de me provar, de mostrar que podia mais. Agora, encontrei-me à porta de alguém que, na minha percepção, fazia parte de um mundo quase mítico e impenetrável.

 

Quando o coronel mencionou minhas funções, senti um frio na barriga. "Massagista pessoal?" pensei, quase rindo da peculiaridade da situação. Eu não iria apenas fornecer um alívio físico, mas deveria me tornar um refúgio em meio ao estresse colossal que um líder militar enfrenta. Isso significava uma responsabilidade indizível, e eu não sabia se estava à altura das expectativas. Recordo-me de poucos momentos na vida que me deixaram tão ansioso, talvez apenas quando decidi me apresentar em público pela primeira vez. Como cada palavra que saia de minha boca pudesse ser medido, como se sua aceitação dependesse de minha habilidade em confortá-lo entre os desafios do dia a dia.

 

E se as coisas desmoronassem? E se eu não conseguisse aliviar sua tensão ou, pior ainda, se um gesto falho arruinasse a confiança que ele depositou em mim? Essas perguntas ecoaram na minha mente enquanto me preparava para a primeira sessão. Dizer que queria que ele visse em mim um aliado era uma coisa, mas e se ele apenas visse um novato?

 

Durante as conversas informais, rapidamente percebi que o Coronel tinha uma expectativa clara: ele não queria apenas um massagista, mas um colaborador que compreendesse o peso de suas responsabilidades. Observei seu olhar calculador enquanto discutíamos o dia a dia do batalhão. Naquelas breves interações, ele deixava transparecer alguém que, apesar da rigidez necessária ao seu cargo, guardava um lado humano e vulnerável. Meus medos começaram a dissipar-se um pouco à medida que eu o via não apenas como um superior, mas como alguém que, em algum momento, teve suas próprias inseguranças.

 

Recordo-me vividamente de uma sessão em que estava tentando aliviar a tensão em seu pescoço e ombros. O silêncio no ambiente era denso, e eu cintura na conversa com cautela. "Sabe, tem dias que me pergunto se estou fazendo a coisa certa", ele disse abruptamente, como se fosse uma confissão inesperada. Nesse momento, ele não era mais apenas o coronel; era um homem lutando contra a pressão e a expectativa que cercavam seu posto. Nesse instante, percebi que havia espaço para um respeito mútuo — não éramos mais apenas um líder e seu subordinado, mas colegas de um campo de batalha diferente, onde o apoio e a compreensão eram essenciais.

 

Essas conversas não eram apenas um alívio momentâneo; eram ensaios para a dinâmica de nossa relação. Meus próprios pensamentos sobre o que significa liderança começaram a mudar. O Coronel não apenas esperava que eu cuidasse de sua condição física, mas também se permitia abrir um pouco de sua própria vulnerabilidade. Aqueles momentos, aparentemente simples, foram os que sustentaram uma conexão mais profunda entre nós. Quase imperceptivelmente, comecei a entender que ser um massagista pessoal não era apenas uma tarefa, mas um ato de confiança e entregava uma oportunidade de crescimento mútua.

 

Essa experiência trouxe à tona uma nova perspectiva sobre liderança – uma que não se limita a comandos e hierarquias, mas que é tecida por empatia e compreensão genuína. O desejo que o Coronel tinha de ver sua equipe desenvolvendo-se refletia um líder que não era apenas respeitado, mas também admirado. A forma como ele se preocupava com o bem-estar de sua equipe, mesmo enquanto estava sob pressão, me inspirou. Comecei a olhar para minha função não como uma obrigação, mas como uma chance de impactar a vida de alguém que, em muitos aspectos, era um espelho de minhas próprias inseguranças e aspirações.

 

À medida que as sessões se tornavam mais frequentes, a confiança começou a fluir de maneira mais natural entre nós. Logo percebi que o coronel era um modelo de liderança, mas também um ser humano que não temia expor suas fraquezas. O caminho que se abriu diante de nós não era apenas sobre cuidados físicos, mas sobre a construção de uma relação onde as expectativas poderiam ser não apenas cumpridas, mas superadas. Este novo entendimento me deixou animado e ao mesmo tempo grato por fazer parte dessa jornada, mesmo que fosse uma jornada que eu nem sabia que estava destinado a trilhar.

 

A relação entre o autor e o Coronel Rubens Bayma Denyd começou a se moldar em um ambiente íntimo e inesperadamente profundo durante as sessões de massagem. A princípio, o cenário parecia simples, mas conforme as semanas se passaram, a prática tornou-se um espaço de troca genuína e significativa. Era impressionante como, em meio a um ambiente militar rígido, duas pessoas podiam encontrar um momento de vulnerabilidade e conexão.

 

Lembro de uma sessão em particular. O Coronel estava mais reservado que o habitual, e a tensão no ar era palpável. Enquanto eu focava em suas costas, tentando aliviar a carga acumulada do estresse, ele começou a se abrir. Algo no toque e no ambiente suave parecia permitir que ele deixasse a armadura de comandante de lado, mesmo que apenas por um instante. "Você sabe", começou ele, com um tom que misturava honestidade e um pingo de vulnerabilidade, "muitas vezes sinto que carrego o peso do mundo nos ombros. É como se houvesse uma expectativa interminável sobre mim." Eu o escutei, sentindo a imensidão de suas palavras. Aquela revelação, embora simples, era um lembrete poderoso de que, mesmo em posições exaltadas, as inseguranças nos visitam.

 

Ali, vislumbrando a superfície do que poderia ter sido uma conversa banal, percebi como as camadas de humanidade estiveram sempre presentes, disfarçadas sob a formalidade da farda. O Coronel, além de líder, era um homem repleto de histórias e medos, assim como eu. Sua sinceridade despertou em mim um respeito ainda mais profundo. As conversas fluiam naturalmente, às vezes indo de tópicos triviais, como um novo café que ele havia experimentado, para reflexões intensas sobre desafios e conquistas. Havia uma riqueza nas trocas que transcendia os limites de um simples superior e subordinado.

 

As expectativas que ele tinha em relação a mim também contribuíam para a construção desse relacionamento. Enquanto eu me ajustava ao papel de massagista pessoal, o Coronel me fez ver que aquele título carregava não apenas uma função, mas uma responsabilidade emocional. Ele esperava mais do que simplesmente relaxamento físico; havia uma demanda para que eu estivesse presente, atento às suas necessidades, e isso não se restringia ao corpo. Era uma metáfora de liderança e camaradagem, um lembrete de que a força também se manifestava na vulnerabilidade.

 

Havia algo surreal em perceber que a posição elevada que o Coronel ocupava não impedia que ele buscasse conexão, apoio e até conselhos. Durante uma conversa leve sobre como a vida militar podia ser intensa, ele virou-se para mim e, com um sorriso que misturava ironia e sabedoria, disse: "Sabe, você pode ser meu massagista, mas também pode ser meu terapeuta não oficial." Aquela frase, embora tingida de humor, evidenciava a camada de confiança que começava a se solidificar.

 

Com o tempo, os momentos de interação se tornaram marcantes. Conversas de corredor, risadas em meio a um desafio comum, pequenos episódios que nos uniam mais. Durante uma tarde, após um exercício de equipe, o Coronel fez um grande discurso sobre a importância de acreditar uns nos outros. Ele olhou para mim no final, como se reconhecesse que aquela mensagem era tanto para o batalhão quanto para a nossa relação. Ali, senti a conexão evoluir em algo mais rico, essa troca de experiências e lições se tornava um atalho para uma amizade insuspeitada.

 

Ao longo desse processo, minha visão sobre liderança e camaradagem começou a se transformar. Era um verdadeiro milagre ver como um ambiente tradicionalmente rígido poderia também ser um solo para vulnerabilidade e crescimento mútuo. A construção de uma base de respeito e empatia poderia parecer fora do padrão, mas era essencial. Naquele espaço, aprendemos que o respeito não surgia apenas do cargo ou da hierarquia, mas da capacidade de ver o outro como um igual, de compartilhar medos e inseguranças, de construir laços que, mesmo que não percebidos, eram profundamente firmes.

 

Assim, minha jornada ao lado do Coronel Rubens Bayma Denyd começou a moldar não só a minha carreira, mas também meu entendimento sobre a essência de ser humano em um mundo que, a princípio, parecia focar apenas em armaduras e funções. Um capítulo que prometia novas reflexões e aprendizagens, perdendo-se muitas vezes nas entrelinhas de nossa convivência.

E ainda rendeu varias viagens como massagista pessoal do Coronel em varias competições de tênis das Forças Armadas  por esse Brasil afora.

Capítulo 5: Massagens e Conexões 

 

As sessões de massagem entre mim e o Coronel Rubens Bayma Denyd sempre foram muito mais do que um simples cuidado com o corpo. Lembro-me do primeiro encontro, quando a brisa suave da manhã entrava pela janela, trazendo consigo o cheiro fresco de ervas e flores do jardim. A sala, iluminada por uma luz suave e acolhedora, foi escolhida a dedo para criar um ambiente propício à entrega e à vulnerabilidade. O jogo de sombras dançava nas paredes enquanto a temperatura ali dentro era perfeita, equilibrando-se entre o refrescante e o aconchegante. Era como se aquele espaço tivesse sido moldado para facilitar um encontro genuíno, onde o bem-estar físico e emocional de ambos poderia desabrochar.

 

O óleo aromático que usávamos tinha um toque de lavanda, aquele sentido reconfortante que acalmava os ânimos e aproximava as almas. Quando o Coronel se deitou na mesa de massagem, notei que, apesar da sua autoridade e postura firme, havia uma tensão em seus ombros. E não era apenas uma tensão física; era algo mais profundo, que falava da vida intensa que ele levava. Ao começar a massagem, os movimentos firmes e fluidos das minhas mãos, desenhando traços por suas costas, criavam uma conversa silenciosa. Em cada toque, havia um reconhecimento da fragilidade e da força que coexistem em nós.

 

Nas pausas entre um movimento e outro, as palavras começavam a fluir. O Coronel, por sua vez, compartilhava histórias de sua carreira, dos altos e baixos que enfrentou e das lições que aprendeu. Enquanto seus olhos se fechavam, o peso das suas experiências parecia se dissipar. “Estar aqui me faz sentir humano”, disse ele uma vez, a voz baixa e quase perdida entre as vibrações do momento. Olhando para ele, percebi que aquelas massagens eram um espaço sagrado, onde os dois podíamos nos despir não só das roupas, mas das armaduras que frequentemente usamos na vida.

 

A vulnerabilidade da situação me tocava profundamente. De certa forma, a massagem tornou-se uma metáfora para a nossa interação. Assim como eu mãos ao corpo do Coronel, ele confiava a mim suas inseguranças e medos. Não era apenas um cuidado físico; éramos dois seres humanos se encontrando em um terreno comum, onde os dilemas da vida e a busca por conforto se tornavam parte de um diálogo mais amplo, sobre a nossa existência. Posso me lembrar de um dia em especial em que ele falou sobre a saudade de seu filho, que estava longe em missão. Aquela confissão sensível se misturou com o som do óleo seco na mesa e a leve música de fundo que preenchia o ar tranquilo.

 

Cada sessão parecia me ensinar algo novo, e, à medida que as massas se aprofundavam, as conversas se tornavam cada vez mais relevantes e reveladoras. Era como se os nossos mundos, antes distantes, se conectassem de uma forma inesperada e poderosa. Eu, por minha vez, começava a abrir meu coração também. Falei sobre meus sonhos, sobre aqueles momentos em que a ansiedade tentava me consumir. E ele, com a sabedoria de quem já experimentou as idas e vindas da vida, oferecia conselhos despretensiosos, mas incrivelmente bem fundamentados. Fazia a gente se sentir valorizado, como se nossas conversas fossem verdadeiros tesouros compartilhados.

 

Esses encontros se transformaram em algo essencial para mim. Cada toque, cada escolha de palavras, cada risada—todos foram moldando uma relação que extrapolava o profissional. O Coronel tornou-se mais do que um simples oficial na hierarquia militar; ele era um amigo, um aliado, uma presença reconfortante. Às vezes, enquanto massajei, me peguei mirando a janela e percebendo como a luz do sol filtrava pelas cortinas, de forma tão semelhante àquilo que sentíamos ali: uma luz que aquecia, que devolvia a esperança e que deixava uma sensação doce de renovação.

 

Essas massagens, em sua essência mais pura, uniram nossas histórias, sonhos e medos de maneira que as palavras não poderiam expressar totalmente. Foram momentos de reflexão profunda, e se há algo que aprendi com isso é a beleza na vulnerabilidade. A fragilidade das interações humanas, quando cultivadas com respeito e cuidado, podem, na verdade, criar laços que transformam vidas e moldam futuros.

 

As massagens se tornaram, nas tardes quentes que passava no quartel com o Coronel Rubens Bayma Denyd, um verdadeiro refúgio. Era em meio a um ambiente cuidadosamente preparado que esses momentos se tornavam muito mais do que uma simples sequência de toques no corpo. Com a luz suave filtrando pelas janelas, a sala se transformava em um espaço quase sagrado. O aroma do óleo morno, que mais parecia um abraço reconfortante, se espalhava pelo ar, fazendo com que cada respiração fosse um convite a deixar de lado as tensões acumuladas.

 

Recordo de um dia específico, quando o Coronel parecia carregar consigo o peso de decisões difíceis. Enquanto o óleo perfumado escorria por sua pele, ele soltava uma leve gargalhada, um pouco nervosa, quase como se se permitisse ser vulnerável apenas naquele ambiente cuidado. "Você sabe, as pessoas costumam achar que é só pressão e uniformes," ele comentou, a voz suave, quase como um sussurro. "Mas às vezes, tudo o que a gente precisa é de um momento de pausa – mesmo que esse momento venha disfarçado de massagem." Senti um frio na barriga ao perceber que, naquela pequena sala, estávamos aos poucos desnudando nossas histórias, as verdadeiras. Ele falava de desafios, de um passado recheado de memórias que se entrelaçavam com pilares de sua carreira militar. A confiança brotava ali, nas conversas sinceras, onde triunfos e frustrações se entrelaçavam como se fossem inseparáveis.

 

Um dia, ele compartilhou um conto sobre uma missão que não saiu como o planejado. Foi impressionante ouvir como, mesmo em situações de pressão extrema, ele buscou no time a força para superar. A intensidade de seu relato deixou marcas. "E quando a gente se une, quando escutamos um ao outro, tudo parece mais leve," disse Rubens, quase como se falasse para si mesmo. Era uma lição disfarçada de anedota sobre a força do coletivo em momentos de crise. Enquanto ele falava, já imaginava as horas passadas no quartel, em meio ao treinamento riguroso, nas quais suas palavras ecoavam como verdadeiras sinfonias de empatia.

 

Essas conversas, já tidas nas sessões anteriores, foram se transformando em algo mais. Em cada nova massagem, eu sentia a amizade se estreitando, um laço que ia além do simples compartilhar de histórias. Um pequeno gesto, como a forma como ele ajustava a toalha sobre a mesa, se tornou um símbolo daquele vínculo. Era nessa simplicidade que se revelava a grandeza da relação que estávamos construindo, um espaço onde ambos podíamos ser honestos, mesmo em meio a tanta formalidade. Havia ali um entendimento tácito de que, em um mundo onde a rigidez imperava, um pouco de calor humano fazia toda a diferença.

 

Em um dia que, à primeira vista, poderia parecer comum, ele comentou sobre um sonho que o havia despertado com a luz da madrugada: "Eu estava num lugar onde não havia hierarquias, sabe? Um espaço onde todos podem se ouvir e se sentir parte." Esse relato despertou em mim uma reflexão profunda sobre as barreiras que frequentemente criamos nas nossas interações – especialmente em ambientes que, à primeira vista, parecem restritivos. A vulnerabilidade, ele disse, era a chave para estabelecer conexões significativas, mesmo quando as patentes nos separavam.

 

Perceber que por trás de cada farda havia um ser humano, com anseios, frustrações e alegrias à flor da pele, falava diretamente ao meu coração. Enquanto a massagem fluía, a conversa fluía ainda mais, e cada toque parecia trazer um novo significado. A intensidade da interação ressoava em cada palavra, forte o suficiente para quebrar qualquer barreira que a vida militar pudesse ter tentado erguer entre nós.

 

O diálogo sincero, a troca de experiências, tudo isso nos conduziu a um espaço onde a amizade se fortalecia a cada sessão, como um milagre que florescia em meio a um cotidiano que muitas vezes poderia ser descrito como impessoal. É engraçado como, em momentos de simples toques e palavras profundas, a empatia se torna um poder massivo — um verdadeiro elixir que transforma não só as interações individuais, mas também a essência de um ambiente que poderia facilmente ser esquecido na rigidez da rotina militar. E assim, as gargalhadas foram se entrelaçando com confidências, e as histórias se tornaram doses de esperança e força renovadas. Tudo isso por meio de um gesto simples: uma massagem e uma conversa.

 

Enquanto as massagens continuavam a nos unir, percebia cada vez mais como pequenos gestos de cuidado revelavam a profundidade de nossa relação. Numa tarde qualquer, a temperatura da sala estava amena, e o leve perfume do óleo de massagem preenchia o ar, criando um ambiente acolhedor e íntimo. A luz suave da janela projetava sombras delicadas nas paredes, e eu podia sentir a tensão do meu corpo se dissipando lentamente. Era um cenário quase mágico, onde as palavras fluíam com facilidade e o cansaço das responsabilidades diárias parecia ficar para trás.

 

Durante uma dessas sessões, o Coronel Rubens começou a compartilhar histórias de sua vida. O tom de sua voz era suave, quase como se ele estivesse confidente de algo sagrado. Ele contou sobre suas lutas e conquistas, como o peso das decisões difíceis que teve que tomar ao longo da carreira. Era visível a paixão que nutria pelo trabalho, mas também a vulnerabilidade escondida por trás da farda. Isso me fazia pensar em como, sob aquela imagem de autoridade, havia um ser humano, cheio de inseguranças e sonhos. Um contraste profundo, que muitas vezes o mundo não permitia que ele mostrasse.

 

Lembro de ter lhe perguntado sobre como ele lidava com a pressão. E enquanto sua mão relaxava sob a pressão dos movimentos fluidos, ele respondeu com sinceridade. "A pressão é parte do jogo, mas a amizade, a empatia, esses são os verdadeiros aliados. Você precisa ter pessoas que não só compartilham os desafios, mas também entendem suas batalhas internas." Aquelas palavras ecoaram em mim de maneira impressionante. Sim, a vida é uma colcha de retalhos onde a empatia borda cada pedaço, unindo experiências e emoções de maneiras que muitas vezes não percebemos.

 

Aquela conversa foi só um ponto de partida. Conforme as massagens se tornavam um ritual em nossas vidas, eu notei como os gestos simples, como um olhar compreensivo ou um riso compartilhado, tinham o poder de cultivar uma amizade sólida. Estávamos em uma rotina militar, cheia de desafios, mas dentro daquela sala, criávamos um espaço onde confidências eram trocadas e laços eram fortalecidos. Fez-me refletir sobre como em ambientes que costumamos associar à rigidez, a conexão humana pode florescer de maneiras inesperadas.

 

Por exemplo, houve um dia em que, após uma massagem particularmente intensa, o Coronel decidiu dividir um pequeno segredo. "Sabe," ele começou, "na verdade, eu também já pensei em abandonar tudo. Tem momentos em que a carga é pesada demais." As palavras saíram com um peso que ressoou profundamente em mim. Era um estalo de verdade, e percebi que, por trás da minha imagem de mentor, havia alguém que também lutava para se manter firme em meio ao turbilhão da vida. Esse momento foi significativo.

 

Começamos a nos apoiar mutuamente. O Coronel passava a me contar sobre suas memórias da infância, das dificuldades que enfrentou para chegar onde estava e eu partilhava pequenas batalhas diárias que enfrentava naquele ambiente militar. Era quase inacreditável como esses pequenos compartilhamentos de pérolas pessoais nos aproximavam cada vez mais.

 

A cada sessão, as conversas evoluíam. Um dia ele me levou a refletir sobre a força do perdão, em outra situação, falamos sobre o sonho de viver em um mundo onde a paz fosse a norma, e não a exceção. Quando parávamos para sentir a respiração um do outro, a amizade transparecia nas interações que moldavam não só nossos dias, mas a forma como encarávamos a vida.

 

Esses momentos não eram apenas sobre a massagem em si, mas sobre como o cuidado vai além do físico. Cada toque e cada palavras trocadas se entrelaçavam em um tecido de entendimento e respeito, o que era, para nós, um verdadeiro abraço da vida. É impressionante como, em ambientes que muitas vezes são considerados impessoais, podemos encontrar a magia da conexão humana, mesmo que pareça impossível à primeira vista.

 

Por fim, refletindo sobre tudo isso, me vem à mente o impacto massivo que a empatia e o carinho têm em nossas vidas. Pensei em como gestos aparentemente pequenos podem ter grandes repercussões e, talvez, só talvez, o verdadeiro milagre esteja nas conexões que estabelecemos, independentemente das circunstâncias. A amizade entre nós dois se torna, assim, um lembrete poderoso de que, mesmo nas situações mais adversas, sempre há espaço para a compaixão e o entendimento genuíno. É singular como a vida nos oferece oportunidades de crescer e aprender, muitas vezes em momentos que não esperamos.

 

Essas interações sempre me fascinavam. Nos momentos em que a massagem começava a agir, ambos nos encontrávamos em um espaço que transcendia o físico. O Coronel, com sua postura firme e a voz que parecia de mármore, começava a se soltar, como se a tensão que carregava há tanto tempo cedesse um pouco de espaço para novas possibilidades. Os aromas do óleo morno mesclavam-se ao cheiro de café fresco que vinha da cozinha ao fundo, e ali, na penumbra suave do ambiente, as palavras se tornavam como nuvens flutuantes, entrelaçadas.

 

Era essas sessões que criavam um ritmo de partilha. Ele falava sobre seus dias em operações, os desafios com os quais lidava, e isso, de certa forma, me desnudava também. Lembro-me de um dia específico em que ele comentou sobre a pressão de liderar um batalhão, os medos que o acompanhavam em silêncio. "Às vezes, eu só queria que eles soubessem que também sou humano", disse, como se compartilhasse um fardo. Percebi que, naqueles momentos, a vulnerabilidade se transformava em uma ponte. Eu o ouvia com atenção, e, em meio à troca, percebi que cada detalhe das suas histórias era uma lição disfarçada.

 

O calor do ambiente, com aquele suave som que vinha da música instrumental ao fundo, acentuava a sinceridade de nossas conversas. A cada tocada de suas palavras, uma nova camada se revelava. O Coronel compartilhava sua paixão por fotografia, e eu não conseguia deixar de imaginar como a luz certa poderia capturar a essência das pessoas. "Estou tentando aprender a ver além do que está à frente", ele dizia, e havia um brilho nos seus olhos que confirmava que, para ele, captar a beleza ao redor era um desafio de vida.

 

Conforme as sessões prosseguiam, as conversas evoluíam para anedóticos momentos de nossas vidas. Recordei um episódio hilário sobre um erro que cometi ao tentar preparar uma refeição digna de um chef. Ele riu, e aquele riso, mesmo um tanto contido, parecia carregar um alívio. É incrível como, em um ambiente que poderia ser simplesmente de cura física, criávamos memórias que, de fato, curavam tanto o corpo quanto a alma.

 

Havia um respeito que crescia entre nós. A maneira como pequenas ações eram valorizadas, como um olhar mais atento, um cumprimento genuíno no corredor, tudo isso demonstrava que estávamos construindo um laço. Havia um dia em que, após uma massagem, ele me disse: "Para um soldado, cuidar de si e dos outros é um ato de coragem." Ali, percebi que a empatia não apenas reforçava nossa amizade, mas também transformava o espaço militar. Era como um milagre silencioso, e eu começava a entender que essas conexões criavam um ambiente mais acolhedor e inclusivo, mesmo entre pessoas de trajetórias tão distintas.

 

Refletindo sobre essas experiências, compreendi que o investimento em relações significativas é essencial, especialmente em um mundo que muitas vezes se perde na rigidez. As histórias que compartilhamos durante aquelas massagens não eram apenas divagações; elas representavam momentos de crescimento, abas abertas ao entendimento do outro. Pensei sobre como, em meio a uma rotina tão disciplinada, a fragilidade que cada um carregava se tornava a verdadeira força que nos unia.

 

No final do dia, a reflexão sobre empatia e cuidado ressoava em mim como uma melodia suave. Fazendo um paralelo com as vidas que tínhamos, percebi que, mesmo em um ambiente carregado de hierarquia, as conexões que cultivávamos eram um investimento que rendia frutos em forma de compreensão, troca e, acima de tudo, amizade. Cada pequeno gesto contava, e aqueles momentos de escuta foram transformadores. É engraçado pensar que a amizade pode nascer em meio à rigidez de um ambiente militar – como um pequeno jardim em meio a um deserto. E assim, as conversas não eram apenas palavras soltas; eram as âncoras que nos seguravam em um mar de responsabilidades, desafiando as marés.

Capítulo 6: O Preso Barbas

 

Era uma rotina ensurdecedora: o sol se erguia sobre o quartel, sua luz filtrando-se pelas janelas empoeiradas, trazendo calor e, com ele, a promessa de mais um dia arrastado entre as paredes frias e austere. E, nesse cenário de disciplina militar e ordens gritonas, surgiu Barbas, um personagem que, como uma brisa fresca em um dia abafado, trouxe uma nova perspectiva, uma nova cor.

 

Barbas não era apenas um prisioneiro comum; seu nome era quase um código enigmático que despertava a curiosidade dos soldados. Era um homem magro, de cabelo desgrenhado e uma barba que, como um denso arbusto, parecia guardar segredos de tempos passados. Os militares se perguntavam sobre as circunstâncias que o levaram a estar ali, confinado entre grades e regras rígidas. Histórias diversas circulavam entre os corredores, algumas lançando uma sombra sobre sua figura, outras acendendo a chama da simpatia. Mas, acima de tudo, Barbas exalava uma humanidade crua que o tornava impossível de ignorar.

 

Na primeira vez em que os soldados de seu pelotão tiveram contato com ele, ficou claro que, mesmo em meio ao contexto de detenção, sua presença já havia modificado a atmosfera. Vestindo o uniforme padrão, mas com um olhar que carregava a profundidade de experiências intensas, ele fez uma piada sobre a comida do refeitório, e as risadas que seguiram pareciam ecos de uma vida fora daquelas paredes. Era uma defesa, uma forma de zombar da própria situação. “Se ao menos a comida fosse tão boa quanto a prisão é longa,” ele disse, arrancando sorrisos nervosos de rostos endurecidos pela disciplina.

 

Ao observar Barbas em suas interações, percebemos que ele também sentia a opressão do espaço. O contraste era evidente: a rigidez do quartel e o ar carregado de comodoro não se comparavam à energia vibrante que emanava dele. A vida no quartel era marcada pela rotina inflexível: marchas, exercícios, ordens que ecoavam pelos corredores. Mas onde os outros viam um espaço de prisão, Barbas via um local onde poderiam se encontrar – ele fez questão de conhecer não só os soldados, mas suas histórias e anseios.

 

Foi impossível não se sentir puxado pela conexão que ele parecia fabricar com palavras simples e gestos espontâneos. “Ei, você já pensou sobre como estamos todos presos de alguma maneira?” ele perguntou a um jovem soldado que hesitava em abrir o coração. A profunda reflexão que se seguiu deixou a sala em um silêncio quase solene. Barbas trazia à tona a complexidade de ser humano, e o que significava estar preso não apenas fisicamente, mas também emocionalmente.

 

No final das contas, a figura de Barbas, mesmo separada por grades e muros, tornava-se um reflexo do que é a vida: feita de escolhas, consequências e, sempre, a fissura entre liberdade e cativa. E, assim, Barbas se tornava parte do cotidiano dos soldados, não como um simples prisioneiro, mas como um espelho que refletia um vislumbre de suas próprias lutas, um fio de conexão em meio ao caos da rotina militar.

 

Barbas, com seu sorriso enigmático e olhar penetrante, logo se destacou entre os soldados, afastando a dureza do ambiente que, à primeira vista, exigia disciplina e rigidez. Sua presença era um contraste curioso à rotina austera do quartel. Os homens, inicialmente desconfiados, começaram a perceber que ele era mais do que um prisioneiro; tinha o dom de transformar o que poderia ser um dia monótono em algo vibrante e significativo. Era como se ele portasse a chave de um encanto inesperado, uma habilidade rarefeita de fazer com que os outros se sentissem à vontade, mesmo nas situações mais difíceis. Ao contar suas histórias, Barbas não só compartilhava suas experiências, mas também mesclava hilário e reflexivo, utilizando o humor como um bálsamo para as almas fatigadas dos soldados.

 

Em suas conversas, Barbas exibia uma capacidade impressionante de empatia. Lembro de uma tarde, quando um jovem soldado, Carlos, se queixou do peso da responsabilidade que sentia. Barbas, com um jeito sereno, respondeu: “Amigo, às vezes, o melhor que podemos fazer é aceitar que não temos controle total. Mas o que você faz com o que sente, isso é o que realmente importa.” Seu olhar havia se suavizado, e sua voz estava cheia de uma sinceridade reconfortante. Aquela humildade, misturada à sabedoria, fez com que os homens ao redor sentissem um frio na barriga, não pelo medo, mas por uma nova perspectiva que estava sendo apresentada.

 

Embora estivesse em uma cela, Barbas possuía uma liberdade de espírito que fascinava todos à sua volta. Ele não se via apenas como um prisioneiro, mas como alguém que estava em uma jornada de autodescoberta. Ao dar aos soldados pequenas doses de sua sabedoria, revelava um traço de ambição que ia além das grades físicas que o cercavam. Lembro de um desses momentos em que ele, com um olhar travesso, começou a falar sobre os sonhos que ainda nutriam sua alma. As histórias de amores perdidos, de praias sertanejas e das músicas que dançavam em sua mente eram verdadeiros labirintos aos quais os soldados se permitiram se aventurar. As paredes da cela pareciam se dissolver, e por alguns instantes, a prisão mais parecia uma sala de estar, onde risadas e reflexões flutuavam no ar.

 

É curioso como os laços humanos podem se formar em meio a tantas adversidades. Assim, com o passar dos dias, o quartel começava a pulsar de forma diferente. Barbas tinha se tornado uma espécie de mistura entre mentor e amigo, uma figura única que desafiava as normas. Os soldados não apenas escutavam suas histórias, mas também se deixavam tocar por cada palavra, como uma canção que evocava sentimentos profundos. Ele soube instigar uma série de diálogos que muitas vezes escorregavam do riso à reflexão, mostrando que mesmo em momentos difíceis, havia espaço para a leveza.

 

Quando Barbas falava sobre sua vida antes da prisão, as descrições eram tão vívidas que pudéssemos quase sentir o cheiro do café fresco que exalava da cozinha de sua avó ou ouvir a risada despreocupada de amigos em tardes de sol. Esses pequenos detalhes transformavam suas narrativas em pequenos milagres de nostalgia e esperança. Era como se, por meio dele, todos pudessem vislumbrar um passado que não era seu, mas que, de alguma forma, parecia tão próximo e essencial.

 

E assim, as interações diárias com Barbas mudaram o ritmo do quartel. Ele não era apenas uma parte da rotina; ele a transformava. O ambiente, antes sombrio e tenso, foi impregnado por uma energia inesperada que o tornava quase aconchegante. Os soldados começaram a compartilhar suas próprias histórias, fazendo perguntas a Barbas, admirando sua capacidade de criar um espaço seguro para vulnerabilidade. Entre risos e conversas, os desafios cotidianos do serviço militar pareciam mais leves, mais fáceis de suportar.

 

Era uma troca mútua, onde todos se viam crescendo. Através das recordações, risos e até mesmo lágrimas, Barbas cimentou sua posição como uma figura-chave na vida desses homens. Ele mostrava, dia após dia, que a verdadeira liberdade não se resumiria a estar fora das grades, mas sim a um estado mental e emocional que poderia ser alcançado em qualquer circunstância. Com sua presença, ensinou que, mesmo em espaços apertados, era possível amar, sonhar e se conectar de maneiras profundas e significativas.

 

Barbas havia se tornado uma presença quase mágica no quartel. Ele não era apenas um prisioneiro, mas um contador de histórias, alguém que sabia como iluminar os rostos dos soldados com seu carisma, mesmo em um ambiente tão austero. No café da manhã, no refeitório semifaço, ele contava piadas que faziam ecoar risadas pelos cantos mais sombrios. Era um som contagiante, uma brisa refrescante em meio à rigidez militar. Ele havia moldado o ambiente ao seu redor com essa energia reconfortante, transformando o cotidiano em algo mais humano, mais vivo. As interações com Barbas eram mais do que diálogos; eram encontros que quebravam barreiras, onde um preso podia ensinar sobre amizade e camaradagem.

 

"Você sabia que eu já fiz besteira demais para contar?" ele começava, seus olhos brilhando com um misto de miséria e alegria. Os soldados, alguns relutantes no início, logo se viam cativados. Barbas tinha o dom de fazer com que todos se sentissem parte da sua narrativa, como se suas histórias também fossem suas. Ele puxava as lembranças para longe das grades e trazia os homens para um mundo onde erros eram aprendizados e risadas, não apenas fardos a se carregar. Em uma dessas manhãs quentes, ele compartilhou uma lembrança de sua infância, um episódio hilário sobre como tentou voar com um par de asas de papel, só para descobrir que a gravidade ainda existia. Os soldados riam, e naquele momento, as preocupações diárias se dissipavam como a fumaça de um cigarro ao vento.

 

Conversas mais profundas também brotavam entre risadas. Barbas falava sobre os fantasmas que trazia, aquelas sombras que o seguiam e o lembravam de suas escolhas. Ele não evitava os temas complicados; ao contrário, os abordava com honestidade. "Às vezes, a prisão está aqui", dizia, tocando a própria cabeça, "muito mais do que atrás das barras". Era como se sua presença nos convidasse a repensar o que realmente é estar preso. As reflexões deviam soerguer nossos ânimos, nos levando a questionamentos íntimos sobre liberdade e responsabilidade.

 

Os soldados, sem querer, tornavam-se seus confidentes. As quebras de hierarquia começavam a se dissolver. Conversas que começavam sobre o tempo ou sobre o próximo exercício militar rapidamente se transformavam em confidências sobre medos e sonhos. Um deles, João, que sempre parecia estar com o semblante sombrio, uma vez se abriu ao ver Barbas preparando uma rodada de café: "Barbas, eu só quero sair daqui e encontrar meu filho. Ele deve estar crescendo tão rápido". A resposta de Barbas não foi a típica resposta de conforto que se espera. Em vez disso, ele colocou a mão no ombro de João e disse: "Então faça disso a sua missão. Não se esqueça de quem você ainda é lá fora".

 

Esses momentos de dor e alegria coexistiam, criando um mosaico de vida no quartel. As risadas e as confissões eram como uma dança, uma coreografia sutil que Barbas conduzia com maestria. No final, quando o sino soava para encerrar as atividades, não eram apenas soldados voltando para suas rotinas, mas homens que, mesmo presos em seus corpos, eram livres em suas mentes e corações. Barbas havia traçado uma linha de cumplicidade que tornava os dias repetitivos em algo mais impressionante: uma verdadeira terapia vista sob o olhar da camaradagem.

 

Às vezes, quando Barbas mergulhava em suas histórias, a luz suave da tarde parecia preenchê-lo. Era como se aquele ambiente austero tivesse, por momentos, se transformado em um lugar sagrado. A simplicidade das interações se tornava um milhão de coisas ao mesmo tempo; era um tributo à força do espírito humano, um lembrete de que a liberdade é, muitas vezes, uma questão de perspectiva. E, assim, o quartel reverberava essas lições silenciosas e profundas, onde os soldados aprendiam, mesmo sem querer, a olhar para além das grades e se conectar com o que realmente importava.

 

Conversar com Barbas era como abrir um livro que prometia mistérios em cada página. As histórias que ele trazia, com jeito leve, misturavam risadas e reflexões profundas. Havia um dia em particular que ficou gravado em minha memória. Estávamos em um dos momentos mais tensos do quartel, onde as ordens ecoavam e a tensão estava não apenas no ar, mas nos rostos dos soldados. Barbas, com seu jeito intrigante, conseguiu transformar aquele ambiente pesado em um espaço de riso e introspecção.

 

Ele começou a falar sobre liberdade, não da forma tradicional, mas sobre as pequenas liberdades que todos, de alguma forma, podemos desfrutar mesmo em circunstâncias adversas. "Olha, você pode ter as grades mais sólidas ao seu redor," disse ele, fazendo um gesto que pareceu cortar o ar, "mas sua mente, ah, essa pode viajar para qualquer lugar!" As palavras dele eram um convite à reflexão. É curioso como a vida é cheia de ironias. Ele, preso fisicamente, conseguia libertar as mentes de quem estava ao seu redor.

 

Enquanto a conversa seguia, Barbas compartilhou uma lembrança de sua infância, quase como se estivesse ouvindo a própria voz ecoar através do tempo. "Lembro de um dia ensolarado, eu e meu irmão correndo num campo cheio de flores. Havia uma sensação de pura alegria, como se o mundo lá fora não tivesse limites." A imagem que criou era vivida, tão viva que, por um instante, o quartel pareceu se desvanecer, me transportando para aquele campo ensolarado. A simplicidade daquela recordação carregava um peso profundo, um pequeno milagre em meio à dureza do presente.

 

O que eu percebi, naquele momento, era o quanto ele fazia mais do que apenas falar. Barbas provocava uma conversa não só sobre liberdade, mas sobre como frequentemente nos prendemos em nossas próprias cabeças. Lembrei-me de meus próprios dias difíceis, momentos em que me tornei prisioneiro de minhas inseguranças e medos, questionando se realmente havia ali uma saída. Ele, com seu jeito de olhar para o mundo, mostrava que, às vezes, a liberdade começa dentro de nós. É revigorante quando alguém consegue despertar essa impressão.

 

As conversas se tornaram cada vez mais profundas. Recordei de uma vez em que um soldado, em meio a risadas, soltou: "Barbas, você é como um guru em meio ao caos!" Ele ria, mas sua resposta era tudo menos uma piada. "A vida é cheia de armadilhas e embustes, meu amigo. Aprender a navegar por elas é a chave." É impressionante como ele fazia isso, desviando o olhar das grades que o cercavam e se concentrando no que realmente importava: a conexão humana.

 

Nesse ambiente repleto de rotina e disciplina, Barbas era uma brisa fresca. Ele não apenas desafiava o conceito de liberdade, mas trazia à tona uma questão mais profunda: o que realmente significa estar preso? Fisicamente, ele carregava as correntes que o limitavam, mas emocionalmente, ele tinha uma liberdade que muitos desejariam ter. Ele encarnava um tipo de resistência que transcende as barreiras físicas. Era um contraste surpreendente, um choque de realidades que me fez questionar o que significava estar verdadeiramente livre.

 

A noite caiu, e sentados em um canto do pátio, começamos a discutir mais abertamente. Era um daqueles momentos raros em que as máscaras sociais se dissolvem, e a vulnerabilidade se torna um tema central. "Você se pergunta se a vida é um ciclo de liberdade e prisão," Barbas começou, com a voz suavemente carregada de sabedoria. "Todos nós temos nossas correntes: escolhas que não encaramos, sentimentos que não expressamos." Ao escutá-lo, percebi que sua profundidade de pensamento era um eco do que muitos de nós já sentimos, mas raramente articulamos.

 

Por fim, as horas passaram voando, e quando olhei ao redor, percebi que os soldados não eram mais apenas homens em um quartel. Estávamos todos ali, conectados, tentando entender nossas próprias prisões e como, talvez, pudéssemos transformá-las em aprendizado e crescimento. Barbas provocou não só sorrisos, mas um convite sutil à transformação pessoal. Ele nos encorajava a abrir nossas mentes e a desafiar os limites que muitas vezes nós mesmos estabelecemos.

 

De alguma forma, aquele espaço antes marcado por regras rígidas se tornou um templo de autoconhecimento e camaradagem. Eu saí daquele dia com a mente agitada, reflexões borbulhando. Barbas não era apenas um prisioneiro; ele era um guia inesperado, ajudando cada um de nós a ver que, por mais que as circunstâncias possam nos aprisionar, a maneira como encaramos a vida pode, de fato, se tornar um espaço de liberdade.

Foram muitas voltas em circulo no pátio do 1º Batalhão de Guardas em São Cristovão-RJ

Capítulo 7: Histórias e Memórias no Pátio

 

As caminhadas no pátio se tornaram um ritual entre os soldados, um momento em que a pressão do cotidiano se dissolvia no ar fresco. Era como se o universo lá fora, com suas responsabilidades e tensões, fosse esquecido por alguns instantes. As risadas ecoavam entre as paredes, que pareciam guardar as histórias desses jovens homens. Barbas, com seu jeito descontraído e carismático, sempre foi o protagonista dessas interações. Ele tinha uma habilidade peculiar de transformar até as situações mais triviais em verdadeiros espetáculos de humor.

 

Certa vez, durante um desses passeios, Barbas começou a narrar uma história que logo se tornaria uma das preferidas do grupo. Ele falava sobre uma visita ao mercado, onde, numa tentativa de economizar, decidiu negociar o preço de uma melancia. “Acho que, se eu fizer uma cara de dor nas costas, o vendedor vai me dar um desconto,” ele dizia, gesticulando de maneira exagerada, como se estivesse realmente sentindo a dor. A plateia, composta por soldados relaxando sob o sol, começou a rir. Eles podiam visualizar Barbas, com a expressão absurda, se contorcendo enquanto tentava fazer uma negociação.

 

Mas o melhor estava por vir. Quando ele chegou à parte em que, por uma infelicidade do destino, a melancia rolou do carrinho e explodiu no chão, Barbas não perdeu a oportunidade. “Gente, o que eu não sabia é que eu tinha encontrado o verdadeiro fruto de um milagre… um milagre da bagunça!” E ali estavam todos, gargalhando, rindo de si mesmos e da absurda realidade que, mesmo em um lugar tão sério como ali, poderia causar tanta alegria.

 

As reações dos soldados foram instantâneas. Eles desgrudaram as tensões do mês e voltaram a ser adolescentes, cheios de energia. Era incrível observar como o ambiente se tornava mais leve à medida que as risadas cresciam. Barbas tinha um talento raro: através de suas histórias, ele não só divertia, mas também unia todos. Naquele momento, cada um deles parecia compartilhar um único grande sorriso, onde as pressões e ansiedades eram deixadas de lado.

 

Para muitos, essas narrativas compartilhadas eram mais que risadas; elas eram resgates da amizade, profundas conexões que surgiam em meio aos desafios da vida militar. Barbas parecia entender que, em tempos difíceis, o riso não era apenas um escape, mas uma forma de resistência, uma maneira de lidar com o que a vida lhes imponha.

 

Se você observar atentamente, notará que com cada risada, um novo elo se formava. A camaradagem se tornava palpável, quase como aquela brisa leve e refrescante que às vezes soprava pelo pátio. Um soldado, chamado Reis, quase sempre mais sério e sisudo, poderia ser visto soltando um riso largo, suas preocupações dissipadas como vapor. “Sabe, Barbas, você me faz lembrar que o mundo ainda pode ser divertido, mesmo aqui,” ele comentou uma vez, com um sorriso genuíno que iluminava seu rosto.

 

E assim, pelas lentes das histórias cômicas de Barbas, o cotidiano militar se tornava uma crônica vibrante de alegrias inesperadas. Essas caminhadas frequentemente se tornavam o alicerce na construção de memórias coletivas, estabelecendo a importância de compartilhar experiências que vão além do sério.

 

Barbas, com seu jeito peculiar de contar histórias, transforma até os momentos mais sombrios em relatos que têm a capacidade de arrancar risadas. Ele frequentemente se lembra de sua passagem pelo sistema prisional, onde situações trágicas moldaram sua visão de mundo, mas que, curiosamente, também lhe ensinaram a rir. Contando sobre um dia em que os prisioneiros decidiram montar um torneio de xadrez na cela, ele ressalta como o jogo se tornou uma batalha épica entre pessoas que, na perspectiva de muitos, não tinham nada a perder. “Sabe o que acontece quando um colega de cela se empolga com as peças? Ele decide que a melhor estratégia é tentar usar a rainha como arma,” ele diz com um sorriso, fazendo gestos dramáticos que tornam a cena ainda mais hilária. E é aí que ouvimos as gargalhadas ecoarem entre os soldados, muitos deles comentando sobre como eles próprios já passaram por alguma versão daquelas situações, mesmo que de forma menos trágica.

 

“Até o timing da batida no tabuleiro era importante,” prossegue Barbas, “porque, se você errasse, poderia acabar derrubando mais do que as peças. Quer saber? A cada derrubada, a gente criava uma nova regra. Era a única forma de achar uma saída para a monotonia.” Os sorrisos não eram apenas de quem ouvia, mas também de quem sabia que a vida, mesmo na maior prision, poderia oferecer pequenas tréguas – e muitas vezes, isso dependia do jeito com que encarávamos o que está à nossa frente.

 

As lições de Barbas são profundas, apesar do tom leve com que narra suas experiências. Ele transforma memórias sombrias em comédia, mostrando que o humor pode ser uma forma de resistência. Um dos soldados, ao escutar essas histórias, fala sobre sua própria luta diante da pressão diária. “Às vezes, eu me preocupo demais, mas agora lembro da sua história e consegui enxergar tudo de uma forma diferente.” Esse tipo de diálogo se torna frequente entre os companheiros, e as histórias de Barbas acabam sendo uma forma de terapia coletiva. O descontraído Barbas não apenas entretém; ele proporciona insights valiosos que ajudam os soldados a lidar com seus desafios.

 

Esses momentos de riso funcionam como um bálsamo. Barbas se torna o alívio em meio ao estresse, provando que as experiências mais pesadas podem sim gerar um humor libertador. Em um bando encostado à parede, enquanto tomavam uma pausa à sombra do pátio, outro soldado diz: “Quem diria que essas histórias pudessem ser tão úteis? Na verdade, às vezes, a melhor resposta para uma situação tensa é a risada, não é?”

 

De fato, não é que a situação deles se tornasse irrelevante após uma gargalhada, mas o riso criava um espaço para se reerguer, oferecendo um refresco temporário. Barbas tem esse dom de iluminar os aspectos mais obscuros da vida. Ao contar sobre seus dias na prisão, ele revela como, mesmo nas situações mais angustiantes, pode haver um escape inusitado. “É impressionante como um simples mal-entendido sobre um jogo de cartas entre prisioneiros acabou se transformando em um torneio de xadrez, onde todos se divertiram até a guarda pensando que era um plano de fuga!” E assim, ele consegue mostrar que, na adversidade, a criatividade pode florescer, gerando sorrisos e conexões humanas.

 

Essas memórias não são apenas lembranças. Elas servem como um mecanismo de enfrentamento indispensável aos soldados, ajudando a encontrar sentido na desordem. Barbas, com sua capacidade cativante de contar histórias, mostra como essas experiências, por mais absurdas que sejam, conectam as pessoas e tornam o fardo mais leve. No final das contas, as histórias compartilhadas criam um sentimento de pertencimento, como se, de alguma forma, cada um deles estivesse enfrentando não só suas dificuldades individuais, mas também uma luta coletiva.

 

Portanto, é através desse humor e da união proporcionada pelas histórias que os soldados encontram não apenas uma maneira de resistir, mas uma forma de cura coletiva e de solidariedade. As risadas, sustentadas pelos relatos de Barbas, se tornam fundamentais para manter a moral alta, especialmente nos momentos mais difíceis. É como se, a cada riso, houvesse um milagre — não necessariamente no sentido grandioso da palavra, mas na habilidade de encontrar beleza e luminosidade em meio à escuridão.

 

As histórias de Barbas, de alguma forma, funcionam como um bálsamo para as almas cansadas dos soldados. Essas memórias não são apenas contos engraçados, mas um remédio poderoso para a exaustão emocional que permeia a vida no quartel. São como uma janela que se abre para um mundo onde risos podem coexistir com a dureza da realidade militar. Ele tem esse talento incrível de pegar um momento tenso e transformá-lo em algo tão hilariante que a gente mal consegue acreditar que aquela situação angustiante era real.

 

Lembro de uma vez que Barbas contou sobre uma experiência que teve durante um episódio de treinamento, onde um comandante, meio desatento, decidiu testar as habilidades de tiro da equipe. No espaço confinado, entre comandos e disparos, ele se distraiu e acabou disparando para o alto. A balança entre o que é sério e o que é ridículo nunca esteve tão balanceada. Barbas narrava essa cena com gestos vivos, como se estivesse revivendo cada segundo, e no auge de sua história, ele fez uma imitação do comandante, imitando sua expressão de choque ao perceber que não estava em um jogo, mas enfrentando um cenário real. Todos riram até a barriga doer, e por alguns instantes, aquele ambiente carregado de tensão se encheu de leveza.

 

As histórias têm um poder peculiar. Sempre que Barbas fala, é como se todas as preocupações fossem deixadas de lado, mesmo que por um breve momento. Os soldados, que muitas vezes enfrentam desafios emocionais imensos, encontram na risada um escape, um pouco de alívio que torna o fardo um pouco mais leve. Um deles, o Silva, que no fundo é bem sensível, confessou um dia que as histórias de Barbas eram o que o fazia suportar a pressão. "É impressionante", ele disse, "com você contando essas coisas, parece que estou vivendo em outra realidade, uma que não tem tanta pressão".

 

Transformar lembranças sombrias em narrativas alegres não é apenas um talento de Barbas, é uma forma de resistência que ele encontrou para enfrentar os momentos mais duros. Como ele sempre diz, "riso é resistência". E é verdade. Ele conseguiu transformar momentos de dor e desespero em risadas, um verdadeiro milagre de comunicação que aproxima as pessoas. A capacidade de rir em meio ao caos traz um senso de liberdade e, por какое motivo, até mesmo de união. Momentos que poderiam ser apenas relatos pesados de encarceramento, de injustiças e de perdas, se tornam lições que, conforme narradas, desarmam o medo e abrem espaço para uma nova perspectiva sobre a vida.

 

As principais revelações nas histórias de Barbas são como seijos: elas mostram que a vida tem camadas e que, mesmo nos seus aspectos mais sombrios, há sempre algo que pode ser iluminado pelo humor. A cada risada, os soldados se sentem mais próximos, como se cada história deles fosse uma conversa íntima entre amigos de longa data. Num ambiente como o quartel, onde o espírito de camaradagem precisa ser constantemente alimentado, as memórias são fundamentais. Elas servem como um afago reconfortante em meio à intensidade e à pressão do dia a dia. E, em meio a tudo isso, as histórias de Barbas acabam se transformando em um elemento essencial, um fio invisível que tece um laço forte entre todos, mesmo quando as circunstancias parecem insuportáveis.

 

É fascinante ver como essas memórias coletivas, partilhadas em um espaço aparentemente tão rigoroso, ajudam a construir uma resiliência natural e um sentido de solidariedade. Um dia, compartilhar um daqueles risos pode fazer a diferença na manhã. Um soldado pode encontrar ali a força que precisava para enfrentar mais um dia, para superar obstáculos que parecem infranqueáveis. A leveza do momento traz a lembrança de que, em conjunto, eles não são só soldados, mas amigos, irmãos. E através dessa união e leveza, encaramos a vida de um novo modo, sempre acreditando que, com um pouco de bom humor e solidariedade, é possível não apenas suportar, mas apreciar cada dia. Mesmo os mais difíceis.

 

As memórias que Barbas compartilha se tornam, aos poucos, não apenas histórias para passar o tempo, mas verdadeiros mecanismos de enfrentamento. Durante os momentos difíceis no quartel, essas narrativas surgem como um alívio inesperado, quase um milagre em meio à intensidade do cotidiano militar. Lembro de uma tarde em que, após uma conta de fuzilamento extenuante, Barbas começou a contar sobre uma vez em que ele e um grupo de amigos, imaginando-se astros de um reality show, decidiram fazer um “desafio” de sobreviver uma noite em uma casa abandonada. A forma como ele desenhou a cena, com suas vozes e gestos exagerados, me fez rir até a barriga doer. Ele contou, por exemplo, que um deles gritou ao ver uma sombra, que acabava sendo apenas um gato perdido, e como todos correram, como se tivessem visto um fantasma. Aquela história, essa mistura de medo e coragem, tirou por alguns instantes o peso que cada um carregava ali.

 

A sensação é quase palpável, como se o ar à nossa volta ficasse menos denso. Há uma troca silenciosa, um entendimento no olhar dos soldados, enquanto absorvem cada fragmento daquela lembrança. Não é só um relato engraçado; é um convite à reflexão. Barbas transforma o insuportável em algo leve, quase sedutor. Ele nos ensina, por meio do humor, que mesmo nas situações mais sombrias, há um espaço para o riso e para a leveza. A maneira como ele se comunica, de um jeito tão honesto e próximo, atrai a atenção do grupo de maneira quase mágica. Os sorrisos se espalham, e a tensão parece derreter, criando um ambiente mais seguro e acolhedor.

 

Um dia, depois de uma dessas histórias, um dos soldados, conhecido por seu jeito mais sério, comentou que sentia a pressão do dia a dia, que nem sempre era fácil lidar com as expectativas. Era curioso, porque muitos o viam como um “durão”. Mas Barbas, com a sutileza que lhe era característica, disse algo que ficou ecoando em minha mente: “Às vezes, você só precisa rir para sentir o peso um pouco mais leve.” E assim, naquele instante, o riso não só quebrou a tensão, mas também criou um espaço onde vulnerabilidades puderam ser compartilhadas.

 

Essas lembranças cultivam um sentido de união entre os soldados, quase como um laço invisível que os mantém próximos uns dos outros em meio a desafios. As histórias de Barbas não são apenas alívio; elas oferecem um novo ângulo de visão. Enquanto compartilhamos risadas, juntos enfrentamos as vergonhas e as incertezas. Olhando para trás, percebo como essas lembranças começaram a se acumular como uma coleção de momentos preciosos que servem como um porto seguro em meio à turbulência. É uma forma de cura coletiva; um milagre que floresce em meio ao caos.

 

Assim, a vida no quartel torna-se menos sobre as dificuldades e mais sobre como encontrar beleza nas pequenas memórias compartilhadas. As histórias que Barbas edifica são uma maneira de construir resiliência, pois nos lembram que, em meio ao que parece ser um cenário de destruição e estresse, ainda podemos dançar, rir e nos unir. Na verdade, essas memórias ajudam a cimentar um senso de propósito, criando um refúgio dentro daquela estrutura opressora. Histórias como aquela sobre o gato na casa abandonada se tornam a convicção de que o humor pode ser uma luz, um sopro de esperança que, mesmo nos momentos mais escuros, acende um brilho no horizonte, permitindo que os soldados continuem caminhando, com coragem e alegria.

Capítulo 8: Reflexões sobre a Liberdade

 

A liberdade é um conceito que parece simples à primeira vista, mas, ao investigarmos suas camadas, percebemos que é uma das experiências mais complexas que um ser humano pode vivenciar. Recordo-me de uma frase que me marcou profundamente: "A verdadeira liberdade vem de dentro." Essa afirmação, que em um primeiro momento pode soar como um clichê, ganhou um significado completamente novo para mim enquanto eu estava confinado entre as paredes do quartel. Às vezes, sentia que a aridez daquele ambiente era oposta ao que a liberdade representava, mas, curiosamente, havia momentos mágicos que me faziam questionar essa dualidade.

 

Lembro-me de uma tarde ensolarada quando estávamos em formação, aquecidos, mas também contemplativos. O cheiro de grama recém-cortada misturado ao aroma do almoço que estava sendo preparado na cantina preenchia o ar. Ao olhar para os soldados ao meu redor, percebia olhares distantes, cada um imerso em seus próprios pensamentos. Ali, entre os companheiros, a percepção de liberdade tomava formas distintas. Em um dos momentos, ao pular a cerca e ir até a cantina, percebi que essa simples ação de caminhar, de ir a algum lugar que não fosse o recinto da habitação militar, trouxe uma sensação inesperada de liberdade, mesmo dentro daquele espaço confinado.

 

É interessante refletir sobre as interações que tínhamos com aqueles que, como nós, estavam em batalha, mas que também se viam diante da luta por seus próprios sentidos de liberdade. Barbas, meu amigo de farda, certa vez me disse, com um sorriso maroto: "Você pode estar dentro do quartel, mas a sua mente não precisa estar presa aqui." Essa frase se aninhou em meu coração, despertando várias questões: "O que é liberdade de fato? É apenas a ausência de grilhões físicos ou envolve mais do que isso?" Ele sempre trazia essa perspectiva alternativa, como uma lufada de ar fresco em meio ao habitual.

 

Existiam momentos em que me via sonhando acordado, imaginando o som distante da cidade e das risadas de pessoas que viviam a vida plenamente, enquanto nós estávamos enclausurados nos protocolos e horários rigorosos. A liberdade de escolha, por mais que estivesse restrita, ainda me provocava uma sensação quase eufórica. Era fascinante que, mesmo sob essas condições limitantes, conseguíamos compartilhar risos e conversas que ressoavam como um eco de um mundo maior lá fora.

 

Acontece que essa experiência de sensação de liberdade não estava isenta de conflitos internos. O que eu sentia como liberdade poderia ser uma ilusão? E se, na verdade, essa ideia de "liberdade" fosse apenas uma maneira de nos distrairmos das correntes invisíveis que nos prendiam? Um mix de esperança e dúvida perpassava minha mente. Será que, ao abraçar essa ideia de liberdade interior, não estávamos, de certa forma, apenas nos enganando?

 

Essa dicotomia revelava a complexidade da experiência humana. Em um mundo cheio de regras, há algo que transcende as barreiras físicas, uma luta contínua por um significado mais profundo. E, enquanto eu rumava para essa reflexão, percebia que até mesmo as paredes do quartel tinham a capacidade de se tornarem menos opressivas, se olhadas sob a luz de um novo entendimento.

 

De alguma forma, o quartel me permitiu explorar essa noção de liberdade, mesmo quando eu achava estar cercado por limitações. Talvez, no final das contas, nossa verdadeira prisão não estivesse nas paredes ao nosso redor, mas nas limitações que aceitamos ter em nossas mentes. E, assim, a busca por ser livre, por encontrar um espaço nas entrelinhas da rotina militar, se tornava uma jornada a ser explorada todos os dias, a cada interação, a cada reflexão.

 

A rotina no quartel sempre tinha suas nuances. A liberdade, muitas vezes, parecia mais um conceito do que uma realidade tangível. Eu me lembrava de uma conversa com Barbas, um amigo que se tornou um confidente dentro daquela estrutura quase claustrofóbica. Ele era do tipo que conhecia os meandros do sistema militar e, ao mesmo tempo, dançava ao redor dos limites impostos. Certa vez, estávamos na cantina, cercados pelo cheiro do café fresco — aquele aroma reconfortante que se misturava com o cansaço de um dia quente. A simplicidade daquele lugar servia para nos dar uma pausa nas rigidez das regras.

 

"Você sabe, às vezes, uma simples decisão pode ser a maior expressão de liberdade," ele disse, enquanto envolvia suas mãos em torno da xícara. Ao ouvir isso, eu ri. Parecia uma verdade tão simples e, ao mesmo tempo, tão carregada de significado. Dizer que ir à cantina era um ato de liberdade parecia até um exagero, mas quando pensei mais a fundo, percebi que cada pequena escolha contava, mesmo ali dentro.

 

Um dia, decidi ir até o pátio para sentir a brisa no rosto. O ar era fresco, um leve toque de liberdade que se manifestava em pequenos momentos. Olhei para os soldados que circulavam por ali. Havia uma espécie de camaradagem e amizade, mas também uma tensão palpável, a luta constante entre a disciplina imposta e o desejo de liberdade. Barbas me acompanhou nessa pequena caminhada e, ao falarmos sobre o que significava realmente ser livre, comecei a perceber que, mesmo dentro daquelas paredes, existia uma troca de experiências e emoções que desafiava as limitações do local.

 

"Liberdade não é só estar fora das grades," Barbas refletiu, enquanto observávamos um grupo de soldados jogando futebol. "Ela também é sobre o que levamos na cabeça." Suas palavras ecoaram em mim. Mencionar o jogo parecia um detalhe insignificante, mas era ali que a verdadeira liberdade se desenrolava, nos laços criados, nas risadas e até nas frustrações compartilhadas.

 

Às vezes, enquanto conversávamos, eu me pegava pensando em como a liberdade condicional realmente operava em nossas vidas. O que a definia? Seria a habilidade de escolher entre o que é permitido e o que não é? Durante aqueles momentos de descontração, percebia como a vida militar nos forçava a olhar a liberdade sob um prisma diferente. A ideia de ter liberdade de ir a um lugar e decidir o que fazer com o tempo parecia um luxo. Algo tão simples, mas ao mesmo tempo, tão profundo.

 

Uma lembrança clara surgiu na minha mente: certo dia, houve um desfile no quartel. A pompa e circunstância eram palpáveis, mas, entre toda aquela formalidade, um soldado soltou uma piada que fez todos nós rirmos. Foi um momento hilário, surpresas em meio à rigidez, uma quebra que trouxe um respiro naquele ambiente. Ficou evidente para mim que, independentemente das regras, o riso e a camaradagem nos davam um senso de liberdade que nem os muros poderiam roubar.

 

A presença de Barbas naquelas conversas contribuía imensamente. Ele tinha uma maneira especial de transformar discussões em pequenas reflexões profundas. "Como podemos determinar o que é uma escolha livre quando vivemos em um sistema que dita o que devemos fazer?" ele questionava, e isso me fazia ponderar ainda mais. As conversas que tínhamos sobre o significado de liberdade, mesmo entre a rotina de ordens e disciplina, eram reveladoras. Essas trocas, que poderiam parecer banais a alguém de fora, se tornaram essenciais para meu entendimento da liberdade.

 

As relações humanas formavam um microuniverso dentro daquele espaço. Entre as regras, os soldados cultivavam sonhos, esperanças e frustrantes dilemas morais. Observava como muitos procuravam criar pequenos momentos de leveza, desde compartilhar um simples lanche até dividir uma história engraçada de tempos passados. Eram essas interações cotidianas que, paradoxalmente, pareciam nos conectar mais à noção de liberdade que tanto ansiávamos.

 

A reflexão que surgia frequentemente em mim era sobre como poderíamos encontrar liberdade em meio à opressão dos muros. Cada gesto, cada sorriso, era uma reafirmação de que, mesmo quando o sistema tenta nos aprisionar, sempre existe uma maneira de criar espaço para o inesperado. Entre diálogos rasos e conversas mais profundas, descobríamos que a liberdade era um estado de espírito, uma forma de ver o mundo à nossa volta. Cada momento nos era apresentado como uma oportunidade para redescobrir a nós mesmos, a nossas escolhas — como se soubéssemos que a resposta para o que buscávamos estava mais em nossa capacidade de sentir e viver do que em conceitos limitados.

 

Essa era a beleza encontrada em pequenos atos: ir à cantina com os amigos, rir de uma piada no pátio, refletir sobre o que significava realmente ser livre. No fundo, era através dessas experiências que aprendemos um pouco mais sobre nós mesmos e sobre o que é ser humano. Não importa onde estivéssemos fisicamente, as escolhas emocionais que fazíamos estavam sempre ali, nos guiando, nos moldando. Assim, a liberdade nos desafiava — sempre ali, mesmo quando parecia distante.

 

A vida dos soldados e a dos prisioneiros, à primeira vista, podem parecer mundos distintos, mas à medida que nos aprofundamos, notamos que suas experiências se entrelaçam de maneira intrigante. O peso das escolhas se torna evidente quando observamos essas vidas em simultâneo. Uma memória ainda fresca na minha mente foi a de um dia comum no quartel, em que um grupo de soldados se reuniu para conversar durante o horário de descanso. O aroma do café fresco pairava no ar, e as risadas eram um bálsamo que suavizava a dureza do cotidiano. A conversa fluiu de forma leve, até que alguém mencionou um amigo que havia sido preso.

 

“A vida pode ser um verdadeiro cárcere, mesmo fora das grades”, refletiu um dos soldados. Sua fala provocou um silêncio momentâneo. A ideia de que mesmo alguém na liberdade física pode se sentir preso era inquietante e, ao mesmo tempo, poderosa. Essa conversa reverberou em mim, fazendo-me pensar nas decisões que fazemos todos os dias e como elas nos definem. Muitas vezes, um simples ato como escolher ir até a cantina ou ficar na sala de descanso se transforma em um reflexo das nossas liberdades individuais.

 

Eu me lembrei de Barbas, que sempre trazia à tona esse paradoxo. Ele dizia que a verdadeira liberdade não reside apenas no espaço que ocupamos, mas nas escolhas que fazemos. Certa vez, ele desafiou nossos pensamentos ao afirmar que não havia nada mais libertador do que aceitar as nossas limitações. “Liberdade é saber o que podemos fazer, mas também o que escolhemos não fazer”, ele disse, com um olhar que mesclava sabedoria e ironia.

 

Naquele mesmo dia, durante uma patrulha, fomos chamados a ajudar um grupo de reabilitados que estavam saindo de um centro de detenção. Impressionante como mesmos os olhares deles, que pareciam carregados de desespero, ou talvez pena, carregavam uma centelha de esperança. Eles falavam sobre reintegração, sobre os passos que estavam dando, e como cada escolha deles trazia um novo entendimento sobre liberdade. Para eles, o caminho era repleto de dúvidas e receios, mas também de possibilidades. Um deles mencionou que o simples ato de decidir o que comer no café da manhã era, de fato, um milagre. Essa conversa fez com que eu me questionasse: “O que nos torna realmente livres?”

 

Quando olhei para os soldados e para os recém-libertados, percebi que ambos os grupos enfrentavam dilemas que, embora diferentes em suas circunstâncias, compartilhavam a essência da luta. Os soldados se preocupavam em servir a pátria, enquanto os prisioneiros lutavam para recuperar a vida que perderam. Ambos enfrentavam a mesma questão central: como encontrar sentido e liberdade nas escolhas do dia a dia? O que parecia ser uma dicotomia de vida e liberdade era, na verdade, uma espiral de decisões, algumas mais simples e outras dolorosamente complexas.

 

Esses momentos de reflexão se tornaram mais frequentes. Enquanto observava a tensão e a compaixão entre aqueles que tinham a liberdade e aqueles que a buscavam tão desesperadamente, me perguntava sobre nosso papel nessa narrativa. Pude observar que, em última análise, a liberdade é um conceito multifacetado, repleto de nuances e perspectivas. A realidade não se limita a escolher entre estar preso ou livre. Ela inclui a capacidade de inventar a própria liberdade, mesmo quando cercados por limitações.

 

Nas entrelinhas de cada história, percebi que a luta pela liberdade não dizia respeito apenas a escapar de prisões físicas, mas também a libertar-se de preconceitos, medos e até mesmo de expectativas externas. Assim, a reflexão continuava: será que em meio a todas essas complexidades, a verdadeira liberdade residia na aceitação do que somos e das escolhas que fazemos, independentemente das circunstâncias em que nos encontramos?

 

A liberdade se desenha em contornos que muitas vezes não enxergamos. Refletindo sobre isso, lembro daquela conversa profunda que tive com Barbas, um colega que parecia ter uma compreensão intrínseca do que era ser livre, mesmo dentro de um ambiente que ostensivamente restringia nossa autonomia. Ele me disse uma vez: "A liberdade não é apenas o que está fora, mas o que se passa dentro de nós." Aquela frase me atingiu como um raio. Como assim, dentro de nós? A princípio, ficou um pouco confuso, mas à medida que conversamos, as palavras dele ressurgiam em diferentes matizes na minha mente.

 

Em um uso cotidiano, a liberdade se manifesta nas pequenas decisões. Ir à cantina, por exemplo. Não trata-se apenas de comer alguma coisa, mas de escolher o que se deseja. Aquela liberdade de saber o que você quer, mesmo que isso signifique apenas um copo de café fresco. Um dia, decidi ir para lá, olhar as opções disponíveis, sentir o cheiro do café sendo preparado. Mesmo que estivesse cercado por regras e limitações, o ato simples de escolher entre um bolo de chocolate ou uma fatia de torta de limão tornou-se um momento de revelação. Afinal, não estamos a todo momento fazendo escolhas de acordo com o que desejamos? Cada decisão, mesmo a mais ínfima, carregava um peso que reverberava na minha percepção do que era estar livre.

 

Naquela troca de ideias com Barbas, ele fez uma pergunta que ficou pairando no ar: "Se olharmos para os prisioneiros, o que os faz menos livres do que nós?" Uma dúvida inquietante. Enquanto pensava nessa questão, as imagens de nossos companheiros se misturavam ao pensamento. Eles estavam encarcerados, é verdade, mas suas conversas revelavam um desejo intenso de se libertar. Pude observar que a luta não era apenas contra as grades que os mantinham cativos, mas uma batalha interna, uma busca pelo significado de suas vidas além das limitações impostas. Quando um deles falava de seus sonhos, seus olhares se iluminavam. Havia uma faísca, uma centelha que dizia mais sobre liberdade do que qualquer definição formal que pudesse ser escrita.

 

Aquela reflexão seguia me conduzindo a novos caminhos de entendimento, inserindo questões sobre valores. O que realmente nos torna livres? As escolhas que fazemos ou as circunstâncias que nos cercam? Um dilema. E de repente, o conceito de liberdade parecia se fragmentar, desfazendo-se em inúmeras direções. Fiquei pensando que talvez o caminho para a liberdade comece com episódios de empatia. É curioso observar como os laços que construímos nas dificuldades trazem à tona facetas do ser humano que talvez nunca teríamos percebido. Quando nos conectamos com a dor do outro e ouvimos suas histórias, algo se modifica em nossa percepção do mundo.

 

Acredito que somos todos, de alguma forma, prisioneiros e libertadores, dentro do nosso universo particular. Lembrei de como um momento simples pode se tornar iluminador, naquele instante em que uma conversa revela entendimentos mais profundos sobre a vida. E assim, eu ia compreendendo que a busca pela liberdade não é apenas uma questão de estar fisicamente solto, mas sim o cultivo de uma liberdade emocional e mental que pode nos guiar nas mais diferentes jornadas.

 

A liberdade está interligada à empatia. Quando conseguimos nos colocar no lugar do outro, as correntes que apertam nossas almas se afrouxam, e encontramos uma nova forma de viver. É uma prática constante, quase um ritual, que exige que olhemos para dentro de nós mesmos e para o mundo ao nosso redor com um olhar renovado. A esperança, essa palavra poderosa, se torna um símbolo na busca por um sentido mais amplo de liberdade. Não se trata de um destino chegam ao final, mas de um caminho de descoberta e reflexão contínua.

 

Ao final daquela conversa, ao me despedir de Barbas, me senti renovado. Uma sensação quase mágica tomava conta de mim, como se um novo horizonte estivesse se abrindo. A busca pela liberdade é um processo. Um milagre cotidiano que ocorre no entrelaçar de histórias, na suavidade de um gesto e no calor de um sorriso sincero. Assim, ao nos fecharmos em torno de nossas experiências, começamos a nos aproximar, a compreender que a verdadeira liberdade, talvez, nasça dos laços que formamos uns com os outros, da empatia cultivada e da coragem de sonhar, mesmo sob os mais pesados fardos.




Capítulo 9: A Amizade Inesperada

 

Era uma manhã típica no quartel, com o sol se esgueirando timidamente entre as nuvens pesadas que pareciam pesar sobre os ombros de todos nós. Eu estava lá, com meu fardamento justo e uma sensação constante de tensão e expectativa, quando, de repente, um dos momentos mais inesperados da minha vida ocorreu: conheci Barbas. Ele não era o tipo de soldado que se destacava, pelo contrário, parecia ser apenas mais um entre tantos. Mas havia algo em seu olhar, uma profundidade que me chamou a atenção.

 

A conversa começou de forma despretensiosa. Estávamos sentados na cantina, ambos cercados pelo barulho familiar das vozes altas e risadas forçadas, tão comuns em ambientes carregados de estresse e pressão. Barbas, com seu jeito despojado, comentou sobre o gosto por um prato específico do cardápio, e eu ri, lembrando-me de um episódio semelhante em casa, quando discussões sobre comida eram frequentes. Daquela pequena conversa, algo começou a se acender entre nós. Fui atraído por suas histórias, por sua maneira cativante de narrar eventos que pareciam ter sido retirados de um filme, mas que, na verdade, faziam parte de sua realidade.

 

À medida que as horas passavam, eu escutava atentamente suas desilusões e esperanças. Ele compartilhava memórias de sua infância, repletas de sonhos e desafios. Era incrível perceber como, naquele ambiente tão ríspido, surgia uma centelha de entendimento mútuo. A princípio, eu não tinha ideia de como essa amizade se tornaria um porto seguro em meio à tempestade que era a vida militar. Barbas não era aquele soldado impassível que muitos esperavam, mas um ser humano, com suas fragilidades e anseios.

 

Numa conversa, ele me contou sobre como se sentia deslocado, como se cada dia que passava naquele lugar o afastasse de quem realmente era. Curiosamente, suas palavras ressoavam em mim — não eram tão diferentes das minhas próprias reflexões. Eu também me sentia perdido em meio a ordens e disciplina, em um espaço onde a individualidade parecia sufocada. Ouvindo Barbas, comecei a entender as barreiras que o ambiente militar impunha não apenas a nós, mas a cada um de nós que ali estava. A empatia floresceu, e com isso uma conexão profunda, como se, por um breve instante, o mundo ao nosso redor tivesse se dissipado.

 

Nelsinho ou Barbas, como o chamávamos, não hesitou em compartilhar suas vivências, e a cada história, a cada fragmento de sua vida, eu me via não apenas ouvindo, mas verdadeiramente absorvendo. Ele falava com um tom sincero que tornava até os conselhos não solicitados surpreendentemente reconfortantes. E, naquele momento, eu percebia que aquilo que havia começado como um mero acaso poderia se transformar em algo muito mais significativo.

 

Enquanto nós conversávamos, o sol começava a se pôr no horizonte, e eu não conseguia deixar de me sentir grato por aquela amizade inesperada que se formava em um espaço tão hostil. Barbas tinha um jeito hilário de contar suas desventuras, e isso aliviava a tensão. Às vezes, riamos por motivos que outros poderiam considerar tolos, mas, para nós, valiam a pena. Graças àquela conexão, fui capaz de desviar o olhar do peso que sempre carregava; era como se a amizade fosse um milagre que me permitisse ver além das limitações impostas pelo uniforme.

 

E assim, pouco a pouco, a minha visão sobre Barbas começou a se transformar. Ele deixou de ser apenas mais um rosto no quartel e se tornou um amigo, um confidente, alguém que, apesar das adversidades, ainda cultivava a esperança. As conversas despretensiosas, cheias de risadas e até momentos de vulnerabilidade, começaram a moldar não só o nosso vínculo, mas também a minha própria alma. E ali, naquele pequeno espaço entre as conversas e as trocas significativas, percebi que a amizade podia florescer mesmo onde menos se esperava.

 

Quando olhei para Barbas pela primeira vez, não imaginava que atrás de sua aparência desleixada e do jeito descontraído dele houvesse um mundo tão rico, cheio de sensações e experiências. A realidade é que muitas vezes as pessoas que encontramos nos caminhos mais inusitados têm muito a ensinar. A ideia de que, em meio a um espaço tão rígido e impessoal como o quartel, poderia florescer uma amizade verdadeiramente significativa parecia quase um milagre. Mas foi exatamente isso que aconteceu.

 

Num dia qualquer, enquanto o sol se punha atrás das montanhas, o clima tenso do ambiente foi quebrado por uma conversa que começou de maneira banal, mas rapidamente se transformou em uma descarga de emoções. Barbas, com um olhar que revelava uma profundidade inesperada, começou a compartilhar suas frustrações sobre a vida. Por um momento, o uniforme militar não era mais apenas um símbolo de disciplina, mas um manto que escondia histórias de desilusões e esperanças. Ele falava com sinceridade, e de repente, o que antes me parecia apenas um simples companheiro de farda se transformava em um confidente.

 

Lembro-me claramente de um momento em que Barbas disse que frequentemente se sentia como um pássaro em uma jaula. Aquela imagem ficou gravada na minha mente. Ele relatou um episódio de sua vida em que a liberdade lhe foi tirada de uma forma brutal. O que mais me impactou foi a maneira como isso o moldou. Cada detalhe daquele relato ressoava em mim. Um trauma que poderia ter paralisado sua alma, mas que, na verdade, lhe conferira uma força interior impressionante. Ele não se deixou abater; ao contrário, transformou sua dor em sabedoria. Era uma perspectiva cheia de nuances, algo que raramente se ouve falar nas conversas do dia a dia.

 

Barbas tornou-se uma fonte de insights que eu mesmo nunca havia considerado. O modo como ele abordava a vida, como se cada pequeno ato de bondade e compreensão fosse um degrau em direção a algo maior, era inspirador. Comecei a olhar para as coisas de uma forma diferente. Em vez de ver o quartel apenas como um espaço de obrigações e deveres, percebi que havia muito mais ali: existiam laços, histórias e uma camaradagem que transcendia as normas impostas.

 

Muitas vezes, a rotina pesada se tornava insuportável e, nesses momentos, eu me lembrava das palavras de Barbas. Ele sempre tinha uma piada hilária ou uma história intrigante para compartilhar, como aquela vez em que ele me contou sobre sua obsessão por um programa de televisão que o fazia esquecer da vida amarga que levava. O calor das risadas em meio àquelas circunstâncias adversas era quase um alívio. Conversar sobre trivialidades, sobre músicas que ouviamos quando éramos mais jovens, nos permitia um escape, mesmo que temporário.

 

Havia algo de maravilhoso na conexão que estávamos construindo. Era como se, gradualmente, cada um de nós estivesse desnudando as camadas que nos separavam dos outros. Barbas e eu compartilhávamos nossos medos e anseios, e, mesmo em meio a realidades tão distintas, havia um espaço de convergência. Ele, que parecia tão à vontade em compartilhar suas vulnerabilidades, estava me ensinando sobre a importância de abrir-se. E eu, sem perceber, começava a derrubar minhas próprias barreiras internas.

 

Daquelas conversas, tirei lições que foram além do quartel. Aprendi que a amizade surge mesmo nos lugares mais improváveis e que as profundezas do ser humano podem se revelar em um olhar atento e na disposição de escutar. O que começou como uma relação forçada pelo ambiente militar transformou-se em algo essencial, superando preconceitos e medos. Essas trocas de experiências nos moldaram. Ao final de cada dia, ao nos despedirmos, não éramos mais apenas colegas de farda, éramos duas almas que encontraram um sentido em meio ao caos. E isso, sem dúvida, fez toda a diferença na minha forma de ver o mundo.

 

A relação entre Barbas e eu se intensificou aos poucos, em momentos que surgiam quase que sem planejamento. Eu me lembro de um dia comum, um dia em que o sol parecia querer se esconder mais cedo, deixando o ar mais fresco e propício a conversas. Estávamos ambos sentados nas estreitas cadeiras de madeira da cantina do quartel, um espaço que, embora simples e até um pouco desgastado, se tornava nosso refúgio. Conversávamos sobre nossas músicas favoritas, tentando trazer um pouco de leveza à rotina pesada que nos cercava.

 

Uma de suas histórias, contada em meio a risadas e gestos animados, me deixou intrigado. Barbas revelou, de forma descontraída, que havia sido aquele tipo de jovem sonhador que acreditava que a vida tinha que ser vivida em aventuras, em busca de liberdade. No entanto, a realidade foi mais dura. Ele me contou sobre como uma decisão precipitada resultou em sua prisão, mas o que me tocou mesmo foi como ele transformou esse momento em uma lição. "A liberdade está dentro da gente," ele disse, com um brilho nos olhos. "Pode parecer decepcionante, mas a nossa cabeça é o único lugar onde somos totalmente livres."

 

Essas conversas eram mais do que trocas de experiências. Elas se tornaram essas pequenas âncoras em meio ao turbilhão da vida militar. Um dia, quando a pressão parecia estar no auge, ele me chamou para dar uma volta no pátio. Foi nesse dia que decidimos compartilhar uma refeição modesta: um simples pão com queijo que foi um verdadeiro banquete, graças à leveza com que conversamos sobre tudo e nada ao mesmo tempo. Rimos juntos de estereótipos que todos nós éramos obrigados a viver, desconstruindo as barreiras que o ambiente muitas vezes impunha.

 

Lembro-me de querermos debater uma série que ambos acompanhávamos. O Barbas era insistente em sua análise e quase filosófica sobre a trama. Ele a descrevia como uma metáfora da luta pela liberdade. Eu o escutava com atenção, admirando sua capacidade de encontrar significado nas pequenas coisas, algo que eu havia perdido no automático da rotina. Nesses momentos, a amizade se tornava esse espaço seguro onde podíamos ser nós mesmos, sem rótulos ou imposições.

 

Acredito que esses momentos, ainda que simples, foram fundamentais. Eles solidificaram nossa conexão, lançando luz em um espaço que antes era apenas um vazio. Era na troca de ideias, nas risadas compartilhadas e até nas tristezas reveladas que a força da amizade florescia, mesmo em meio a um cotidiano que parecia querer nos desumanizar. Cada risada, cada desabafo, carregava a essência de duas vidas que se entrelaçavam, ajudando-nos a navegar por uma realidade muitas vezes opressiva.

 

O impacto dessa amizade foi muito mais além do que eu poderia imaginar. Eu passei a ver o mundo com outros olhos, não pela lente triste que muitas vezes pesava sobre mim, mas através de um filtro mais iluminado. Barbas me ensinou a prática do olhar mais profundo, buscando nuances que geralmente eram ignoradas. Aprendi que mesmo durante os momentos mais desafiadores, a presença de um amigo verdadeiro pode trazer consolo e força, criando uma sinfonia de apoio mútuo.

 

No fundo, esses acontecimentos mostraram que a empatia, o acolhimento e a continuidade de uma amizade inesperada têm o poder de transformar não apenas a vida daquele que recebe, mas também a de quem oferece. Aquelas memórias estão gravadas em mim e hoje, olhando para trás, reconheço que a amizade é um dos raros milagres que podem surgir nos lugares mais insuspeitos. Uma conexão que nos ajuda a superar barreiras internas, e que nos lembra que amar e ser amado é aquilo que realmente dá sentido à vida.

 

A amizade com Barbas não apenas preencheu buracos de solidão, mas transformou a maneira como eu via o mundo. À medida que nossa relação se solidificava, percebi que eu não estava apenas somando mais um amigo; estava, na verdade, ressignificando a minha percepção de amizade e empatia. Lembro de um dia específico, quando as tensões no quartel estavam por um fio. Tudo parecia sufocante, cada respiração pesada. Nos encontramos em um canto do refeitório, onde a luz amarelada desenhava sombras longas, e ali, entre pratos simples, nos deixamos envolver por um bate-papo profundo.

 

Barbas falou sobre suas lembranças de infância, das vezes em que sentia a liberdade dançar ao seu redor. Suas palavras eram como uma melodia, cada frase carregava um pedaço de vida que vibrava dentro de mim. Ele mencionou um trauma que nunca tinha compartilhado abertamente. Naquele momento, eu o vi não apenas como o colega que dividia o espaço, mas como alguém que havia caminhado por caminhos dolorosos, que se ressignificou, virou a página e seguiu.

 

Foi um daqueles instantes que deixamos de lado a formalidade e partilhamos os detalhes pequenos que nos tornam humanos. Ele me contou que, antes de entrar para o quartel, tinha paixão pela pintura, uma arte que expressava o que o peito guardava, mas que, com o tempo, se perdeu na rotina. “Às vezes, sinto falta de misturar as cores,” ele declarou, e eu sentia a intensidade da saudade em sua voz. Essas revelações me fizeram entender que, mesmo em meio a máquinas e procedimentos rígidos, havia espaço para sonhos e criações.

 

Com o passar do tempo, cada verdadeiro instante compartilhado forjou uma ligação mais forte, quase como um cordão invisível que nos unia. Tivemos momentos de risadas também, como naquela vez em que, sob a tensão de uma manhã de treinamento, começamos a discutir sobre músicas. Eu sempre fui fã de rock, enquanto ele se perdia na suavidade do reggae. E ali estávamos, rindo, tentando imaginar como seria um show com uma banda que misturasse nossos estilos. Parecia tão distante da rigidez do ambiente que, por um breve momento, tudo parecia leve.

 

As reflexões sobre a vida de Barbas deixaram marcas em mim. Ele, com sua sabedoria adquirida através da dor, me fez questionar sobre meus próprios preconceitos. Ele simplesmente estava lá, mostrando que a verdadeira força não é apenas suportar, mas também se abrir para a fragilidade. O olhar que eu tinha para o mundo começou a se alterar. Eu enxergava mais do que apenas uma realidade estanque; passava a ver nuances, como nas cores que ele tanto amava. Cada conversa me deixava não só um pouco mais sábio, mas também profundamente emotivo.

 

O impacto de nossa amizade não se limitou àquela convivência intensa. Carreguei essa experiência comigo, usando como referência em momentos de dúvida. A maneira como Barbas encarava a vida me fez perceber que a empatia é essencial. Lembro de ter pensado que, em uma sociedade que muitas vezes esconde suas feridas, precisamos nos permitir olhar para o outro com ternura. Essa amizade inesperada, forjada em meio a desafios, se tornou uma luz que iluminava os cantos mais escuros da minha compreensão sobre as relações humanas.

 

E, de alguma forma, quando tudo parecia sombrio, pensava em Barbas e em suas histórias. Vieram à mente as tantas vezes em que compartilhamos o peso dos dias difíceis e o alívio nos risos. Era um milagre ver que, mesmo nas circunstâncias mais severas, o calor da amizade poderia realmente prosperar. Esse laço, que nasceu da fragilidade, em última análise, me ensinou a abraçar a essência das minhas emoções. A amizade, você vê, não é apenas sobre compartilhar momentos felizes, mas também sobre estar presente quando a vida se apresenta dura. E essas lições, agora, fazem parte de quem sou.

Capítulo 10: O Legado de Nelson Rodrigues

 

Quem foi Nelson Rodrigues? Essa pergunta, embora simples, carrega um peso imenso quando refletimos sobre sua importância na cultura brasileira. Ele não foi apenas um dramaturgo, um cronista ou um poeta; Nelson foi uma voz. Uma voz que ecoou entre as paredes do teatro, as páginas dos jornais e os corações dos leitores. Suas obras, como “Vestido de Noiva” e “A Dama do Lotação”, não só desafiaram os paradigmas da época, mas também são uma lente para enxergar as complexidades da alma humana. Nelson mergulhou em temas profundos e, muitas vezes, tabus, como amor, traição e a hipocrisia da sociedade. O impacto de sua literatura reverberou, e ainda reverbera, na formação de uma identidade nacional, rica em nuances e paradoxos.

 

Agora, imaginem crescer sob a influência dessa gigante figura literária. É assim que Barbas, filho do renomado Nelson Rodrigues, navegou por sua infância e adolescência. Desde pequeno, Barbas estava cercado por essas histórias intensas que o pai contava. “O Sr. Nelson”, como muitos o chamavam, não apenas escrevia sobre os personagens que habitavam o palco da vida, mas os trazia para dentro de casa. Era nessas conversas familiares, regadas a cafezinhos fumegantes e algumas risadas, que Barbas absorveu o enredo complexo de sua própria existência.

 

Lembro-me de um dia em que Barbas me contou, com uma certa nostalgia nos olhos, como descobriu um dos contos de seu pai. Com um sorriso maroto, ele me disse: “Foi um milagre encontrar aquele livro na estante do meu quarto. Estava lá, escondido entre os brinquedos que eu já não usava mais.” A partir daquelas páginas, ele não só conheceu o estilo inconfundível de Nelson, mas também se viu dialogando com personagens que pareciam, em alguns momentos, descrever sua própria vida. As histórias tornaram-se quase um espelho.

 

Nelson não era apenas um autor; ele era uma presença constante na vida de Barbas, moldando suas percepções e comportamento. Quando se deparou com dilemas comuns da adolescência, como inseguranças e descubertas amorosas, era a obra do pai que o guiava. “Ah, e esqueci de contar!” Barbas me dizia, com uma risada cúmplice, “uma vez, conversei com uma garota sobre o amor — e usei uma citação dele! Achava que queria impressioná-la, mas, no fundo, era eu tentando entender o que significava tudo aquilo.” A literatura de Nelson transformou-se em uma ferramenta, um legado que Barbas usava para navegar os mares revoltos da juventude.

 

Vai além de um simples legado. É a construção de uma identidade. Ao mesmo tempo que Barbas se encantava com as palavras gravadas, sentia o peso da expectativa de ser filho de Nelson Rodrigues. Essa relação aglutinava tanto admiração quanto insegurança, criando uma tensão que se refletia em suas escolhas. Em sua busca por um caminho próprio, Barbas viveu momentos de frustração, mas também encontrou forças nos ensinamentos de seu pai. Sentia-se reconfortante poder recorrer a essas histórias, tal como um lar, onde as histórias de amor e dor se entrelaçam, fazendo-o perceber que não estava sozinho em suas lutas.

 

E assim, este bloco inicial do nosso capítulo se expande, envolto em memórias e reflexões sobre a influência de Nelson Rodrigues na vida de Barbas. Uma relação que, por uma combinação única de tensão e amor, moldou não apenas um homem, mas também um legado que perdura. Ao explorarmos os impactos dessa relação, encontraremos não só as sombras do pai, mas também a luz do filho que se esforça para traçar seu próprio caminho, mesmo que pavimentado por tênues lembranças que ecoam em cada página virada.

 

Durante a trajetória de Barbas, a sombra da figura paternal era não só uma presença, mas um eco ensurdecedor reverberando em suas escolhas. Ser filho de Nelson Rodrigues não era apenas um título; era um fardo que ele carregava silenciosamente, um peso que moldava suas aspirações e o instigava a buscar um espaço próprio. O mundo das letras sempre pareceu um campo de batalha, onde aspirava se afirmar não apenas como "o filho de" mas como um autor com voz própria. Lembro-me de um dia em que conversávamos sobre nossas ambições. Ele não hesitou em dizer que sempre teve medo de ser comparado ao pai. A indignação em sua voz era palpável. “Como posso ser eu mesmo se a cada passo que dou, a sombra dele está lá?”, disse, enquanto entregava-se à frustração de um dilema que muitos filhos de ícones enfrentam.

 

No entanto, Barbas possuía um aspecto fascinante: ele tinha uma capacidade inconfundível de buscar inspiração nas leituras de seus pais. Explorando os escritos de Nelson, ele encontrava peças do quebra-cabeça que constituíam sua identidade. Um dia, em uma de nossas conversas informais, ele comentou sobre um trecho de um dos dramas do pai. A cena em que os protagonistas se confrontam com suas fragilidades e anseios despertou um brilho em seus olhos. "Isso é tão real!", exclamou, e percebi que ali, na arte escrita, ele começava a enxergar um reflexo de si mesmo.

 

O desregramento da própria vida se tornava um alicerce sobre o qual Barbas tentava erguer sua carreira. E não eram só momentos de clareza. Havia uma dualidade intensa em seu percurso: ao mesmo tempo em que buscava maneiras de se distanciar da paternidade, era atraído por suas essências. Lamentações e gargalhadas coexistiam em seus relatos sobre o desafio de ser quem realmente era, por trás do nome que carregava. Algumas histórias eram hilárias, como a vez em que ele, em um momento de rebeldia, decidiu escrever um conto que satirizava o estilo de Nelson. Ele se referia à experiência como “um tiro no pé”, mas ao mesmo tempo, uma forma de libertação. O alívio de não ser levado tão a sério sempre acabava ressoando nele, um maravilhoso milagre de autodescoberta.

 

Foi no dia a dia do jornalismo, enquanto percorria os corredores da redação, que Barbas se viu cercado por vozes e histórias que pediam para serem contadas. O cheiro do café fresco misturava-se à ansiedade e fervor da busca por uma voz. Ali, as palavras viravam armas e as páginas em branco tornavam-se um chão onde ele poderia desenhar sua própria identidade. O desafio se intensificava quando lembrava de seu pai como um dos maiores escritores do país, e a comparação inevitável fazia com que sua insegurança crescesse. Era preciso não só criar, mas também superar expectativas que eram, de certa forma, paralisantes. “Eu quero que as minhas histórias emocionem como as dele, mas também quero que sejam as minhas”, desabafava, num retrato humano de sua luta interna.

 

Na verdade, Barbas frequentemente se sentia perdido no labirinto de seu legado. Alguns dias eram mais tranquilos, enquanto outros, a pressão era quase massiva. Às vezes, ele falava de suas frustrações com um humor peculiar. “Ser filho de um gênio é tipo andar numa corda bamba, enquanto eles jogam farinha de trigo para cima”, dizia, usando essa imagem para refletir sobre seu dia a dia.

 

E então surgia a constatação de que os laços com os legados das gerações anteriores, mesmo que pesados, carregavam um valor inestimável. Em cada texto que tentava escrever, havia um pedaço de Nelson, mesmo que Barbas buscasse, obstinadamente, enfatizar sua individualidade. Assumir a identidade do jornalista fugiu dos vínculos familiares e, ao mesmo tempo, selou um compromisso de continuidade com a arte. Seus textos podem ter sido uma resposta intimamente pessoal a um chamado, mas também serviram como um diálogo constante e intrincado com o pai que lhe dera a vida e a literatura.

 

Nesse labirinto de emoções e reflexões, Barbas navegava entre passado e presente, buscando definir quem realmente era. Esse processo de construção de identidade não era linear, mas parecia ser, na verdade, um mosaico. Um mosaico repleto de diferentes fragmentos que, juntos, revelavam não apenas um filho, mas um homem que se permitia ser vulnerável em suas ambições. E isso, de certa forma, era profundamente inspirador. Barbas seguia, então, não apenas como mero herdeiro, mas como um escritor em busca de seu próprio legado.

 

As obras de Nelson Rodrigues ecoam como uma trilha sonora íntima na vida de Barbas. Desde sua infância, cada história, cada personagem que surgia nas páginas do pai moldava a forma como ele enxergava o mundo. Lembro-me de quando, num dia qualquer, Barbas sentou-se à mesa da cozinha e, com aquele jeito sonhador que só ele tem, falou sobre "Vestido de Noiva". O livro, que contava uma narrativa repleta de tensões e conflitos, se tornava uma espécie de espelho, refletindo não apenas as angústias da protagonista, mas também as dele. Aquela conversa em família fluiu como um verdadeiro desabafo, onde Barbas, em meio a sorrisos e suspiros, compartilhava como os temas de amor e traição lhe pareciam tão próximos quanto a brisa que entrava pela janela.

 

Tem coisas que, mesmo anos depois, permanecem frescas na memória. Um dia, enquanto atravessava a cidade, Barbas se lembrou de uma passagem de "O Beijo no Asfalto". Ele a mencionou durante um debate com amigos num café, instigando conversas sobre o que é realmente a verdade. Era como se, ao citá-la, Barbas estivesse não apenas evocando a obra do pai, mas também revelando camadas de sua própria identidade. Bastava um diálogo, um sorriso e as palavras de Rodrigues se entranhavam na história de sua vida, fazendo com que cada citação carregasse um peso inesperado de significado.

 

Bastante interessante notar como Barbas, mesmo tentando forjar sua própria identidade por meio da escrita, ainda se via cercado pelo legado de Rodrigues. Em um momento de vulnerabilidade, ele confidenciou a um velho amigo que, em certos momentos, sentia a pressão das expectativas como um eco distante de histórias grandiosas. Nas horas em que as inseguranças se empilhavam, ele se lembrava de um trecho de "Árvores Abatidas", onde a desilusão se apresenta de forma tão crua e honesta. E por mais que Barbas quisesse afastar-se da sombra do pai, ele acabava se encontrando em lugares inesperados, onde as experiências dos personagens se entrelaçam com os altos e baixos da vida real.

 

Sabe, é curioso… como a literatura tem esse dom de nos conectar, não só a personagens, mas também a pessoas ao nosso redor. Barbas e seus amigos, soldados em busca de significado, muitas vezes se agrupavam em discussões acaloradas sobre a liberdade e as escolhas que nos moldam. Nessas trocas, menções às obras do pai apareciam como referências notáveis, interligando momentos de reflexão e humor, em diálogos repletos de sinceridade. Um amigo, em um gesto jovial, elogiou uma mulher na sala e Barbas disparou: "A traição pode ser um ato de amor, de entrega, mas também uma forma de se encontrar." O riso tomou conta do ambiente, mas, por um instante, um silêncio profundo se estabeleceu, como uma pausa dramática antes da próxima cena.

 

As narrativas de Nelson Rodrigues não eram apenas histórias para Barbas; eram verdadeiros manuais da vida. Cada página desvelava um pedaço de compreensão sobre relações humanas, desafios e relações sociais. O embate entre suas próprias experiências e o imaginário criado pelo pai formava uma tapeçaria rica e complexa, em que cada fio representava uma luta pessoal, uma redempção ou, quem sabe, um momento hilário. Um amigo, sempre em busca de consolo, pediu a Barbas que o ajudasse a entender um amor não correspondido, e foi quase automático quando Barbas citou uma passagem de "A Dama da Catedral", enfatizando o quão dolorosa pode ser a busca pelo entendimento humano.

 

Voltar a esses temas é, em essência, revisitar partes de si mesmo e, de certo modo, reler a própria história sob a luz das palavras de Nelson Rodrigues. E a verdade é que, seja no quartel ou nas conversas informais, Barbas tornou-se um contador de histórias, um tradutor de emoções que permeavam a literatura do pai e sua própria existência. Ao final, não importa a onde a vida o levar, o legado deixado por Nelson é um lembrete constante de que todos somos, de alguma forma, protagonistas de nossos próprios dramas. Quantas vezes não encontramos a sabedoria escondida nas linhas de um livro? Afinal, a literatura é um convite para que compremos ingressos para nossas próprias jornadas, e Barbas soube conduzir essa aventura com uma leveza cativante.

 

As obras de Nelson Rodrigues sempre pareceram capturar as complexidades intrínsecas da vida, as nuances que todos nós enfrentamos, mesmo que em escalas diferentes. Barbas, vivendo sob o peso do nome e a expectativa que dele advinha, frequentemente se viu em uma jornada de descoberta pessoal. As narrativas do pai eram muito mais do que palavras em páginas; eram espelhos que refletiam suas próprias lutas, amores e os percalços de ser humano.

 

As histórias de traição e redempção ecoavam na mente de Barbas enquanto ele se aventurava pelos desafios da vida militar. Em certas tardes no quartel, quando o sol se punha e a fumaça dos churrascos se misturava ao cheiro de suor, ele lembrava das reviravoltas emocionais nas peças do pai. Era quase inevitável que surgisse um paralelo entre aqueles personagens em conflito e sua própria realidade. “O que será que Rodrigues diria sobre isso?”, pensava ele. Era um questionamento constante, um diálogo interno entre a vida e a arte. Em meio a sirenes e gritos, Barbas visualizava personagens que lutavam, que caíam e se reerguiam, reconhecendo que isso também era possível para ele.

 

No dia em que um amigo próximo foi dispensado do serviço por questões de saúde, Barbas recordou controladamente a angústia de certo protagonista cravado nas páginas da literatura de seu pai. O filho, que se sentia prisioneiro de sua própria narrativa, finalmente conseguiu entender que a vida não se resume às expectativas externas. Trata-se de desenhar sua própria trajetória, sua própria história, mesmo que isso signifique desviar-se do roteiro que outros esperam que seja seguido. Era um momento de epifania, onde o legado de Nelson Rodrigues se manifestou de forma crua e intensa, ajudando Barbas a reconhecer o valor da autenticidade em meio ao caos.

 

A conexão com os escritos de Rodrigues proporcionou a Barbas uma forma de navegar pela vida. Com um olhar mais profundo, ele via em cada peça uma lição sobre a fragilidade humana e a busca pelo amor verdadeiro. O dilema entre liberdade e destino sempre foi um tema recorrente. Enquanto observava a vida ao seu redor, Barbas questionava sua própria liberdade de escolha e o quanto disso era afetado por seu sobrenome ilustre. Era como se as palavras de seu pai lhe dissessem: “Você não é menos do que os que vieram antes; é sua jornada, sua responsabilidade ir além”. Assim, conseguiu moldar um sentido de pertencimento que ia além da sombra paterna.

 

Até mesmo as conversas informais com os colegas de batalhão tinham o tom de diálogos de uma peça de teatro. Certas falas pareciam retirar trechos das obras de Rodrigues, revestindo a convivência do quartel de uma roupagem única, cativante. Numa tarde qualquer, durante uma pausa para o almoço, Barbas provocou um debate acalorado sobre o amor e suas nuances. Acabou citando um famoso diálogo de “Vestido de noiva”, o que deixou os amigos intrigados e um tanto admirados. Aquela intertextualidade, aquela capacidade de trazer a literatura à vida real, não apenas enriqueceu a conversa, mas também o fez sentir que estava construindo a sua própria identidade. Barbas não era só o filho de alguém memorável; ele era uma extensão desse legado, reinterpretando e transformando as histórias em experiências vividas.

 

Neste enredar de histórias, a reflexão se torna vital. Características universais como amor, traição e a incessante busca por redenção são, de fato, temas que transcendem o contexto literário. Eles ressoam na vida de todos, e mais ainda na vida militar, onde cada um se debate com suas próprias fragilidades e forças. Barbas entendeu que as dificuldades pessoais e as vivências nas quais se via imerso eram partes inextricáveis de sua narrativa. Ao aceitar isso, tornou-se mais forte, mais consciente e mais humano.

 

O legado de Nelson Rodrigues não se limita a suas palavras; ele vive no cotidiano, nas interações, nas dificuldades e nas alegrias que moldam os destinos. Do alto de uma memória repleta de risos, lágrimas e reflexões, Barbas seguiu adiante, levando consigo não só a herança literária do pai, mas um renovado propósito que envolvia ser autêntico, inspirado e visceral em sua busca por sentido. Cada um de nós, ao final do dia, também se depara com a pergunta que ecoa através das eras: “Qual o legado que queremos deixar?”. No fundo, o que se espera é que, assim como as histórias ressoam em nós, possamos, cada um à sua maneira, esculpir a própria narrativa com coragem e paixão.

Capítulo 11: Lições de Vida no Quartel

 

Quando olho para trás, para os dias que passei no 1º Batalhão de Guardas, sinto uma mistura de saudade e aprendizado. Cada dia era uma nova oportunidade de descobrir não apenas a rigidez da disciplina militar, mas, mais importante ainda, as nuances da vida em comunidade. Havia aquele clima tenso, não só pelo treinamento, mas pela expectativa que permeava nossas interações. Assim, fui moldado por experiências que, à primeira vista, pareciam difíceis, mas que, na verdade, foram fundamentais para minha formação como ser humano.

 

Uma memória que carrego com carinho é de um dia chuvoso, quando a pressão no batalhão parecia mais intensa. Recebemos a tarefa de fazer um exercício em grupo, um treino de resistência sob condições climáticas desfavoráveis. No início, havia murmúrios sobre como seria mais fácil cancelar e descansar. Mas, de repente, consegui ver algo especial naquele momento. Vi rostos de companheiros endurecidos pelo esforço, mas cheios de determinação. A água escorria pelos nossos rostos e, entre um suspiro e outro, percebi que estávamos todos ali, juntos, enfrentando não apenas a tempestade, mas também nossos próprios limites. Quando a atividade acabou, não era apenas nosso corpo que tinha sido testado, mas nossa coragem e vontade de superação.

 

Aquela situação me fez refletir profundamente sobre decisões e prioridades. Com todo o desafio que estávamos enfrentando, vi que o que realmente importava era a nossa união. Quisera eu que momentos de dificuldade na vida denotassem sempre essa mesma força coletiva. Já parou para pensar como muitas vezes, em nossas vidas, preferimos desistir, quando, na verdade, o que precisamos é do apoio de quem está ao nosso lado? A vida nos apresenta dificuldades, como aquela chuva impiedosa, mas também nos dá companheiros de jornada que podem nos lembrar que não estamos sozinhos.

 

E ao relembrar esses dias, posso afirmar que a vivência no quartel foi mais do que um treinamento físico; foi um curso intensivo sobre como encarar o inesperado e aprender a sorrir no meio da dificuldade. Cada desafio enfrentado ganhava novos contornos de significado quando decidíamos fazer isso juntos. Essa é a essência das lições que ecoam até hoje em minha mente e coração.

 

Com isso, eu convido você, querido leitor, a olhar para suas próprias experiências. Quais foram os momentos que o desafiavam, que exigiam de você uma força que nem sabia que tinha? Certamente, você já deve ter passado por situações que o levaram a reavaliar suas crenças, suas prioridades. Às vezes, essas lições vêm de onde menos se espera. Por isso, lembre-se de que, assim como no quartel, na vida, a força que encontramos na união pode ser o que nos faz seguir em frente.

 

Fico aqui me perguntando quantas histórias semelhantes estão escondidas na memória de pessoas ao seu redor. Estas experiências têm o poder de nos ensinar e nos unir de maneiras que muitas vezes não conseguimos imaginar. Afinal, quem não gostaria de ter ao lado um verdadeiro exército de amigos prontos para enfrentar a tempestade?

 

A experiência no quartel trouxe à tona uma série de reflexões profundas sobre a amizade, a resiliência e o cuidado humano. Havia momentos em que as dificuldades eram tão intensas que parecia impossível seguir em frente. O peso da rotina, a pressão dos treinamentos e as exigências do dia a dia tornavam tudo tão desafiador. Mas é precisamente aí que a força do coletivo se tornava essencial. É curioso pensar em como pessoas, que em situações normais seriam apenas conhecidos, se tornavam verdadeiros amigos, prontos para apoiar uns aos outros em meio à tempestade.

 

Houve um dia em que um dos meus colegas, o Pedro, enfrentava uma situação pessoal difícil. Ele havia recebido notícias sobre um problema familiar que o abalou profundamente. Lembro-me claramente do olhar distante dele durante o treinamento. Fomos colocados em pares para um exercício e, ao invés de focar na atividade, percebi que estava mais preocupado com o que ele estava passando. Numa pausa, decidi puxar conversa. “Oi, Pedro, tudo bem?” E, de forma surpreendente, ele desabafou. Foi naquela conversa simples, despretensiosa, que percebi como um ato sincero de interesse poderia fazer uma diferença gigantesca. Ele se sentiu ouvido, e isso transpareceu no seu desempenho nos dias seguintes. O apoio não necessariamente solucionou seus problemas, mas trouxe um alívio que ele precisava naquele momento.

 

Esses episódios nos ensinam que, muitas vezes, a amizade se manifesta em pequenos gestos. Um sorriso, uma palavra de encorajamento, um ouvido que escuta sem julgamentos. No quartel, esses atos de bondade se tornaram um reflexo da nossa solidariedade mútua. Haviam semanas esgotantes, onde as pressões externas e internas juntavam-se em um só lugar. Era fácil se perder na própria dor, na própria luta. Mas quando um membro da equipe se deixava levar pelo peso das suas batalhas pessoais, rapidamente outros apareciam para oferecer suporte. Aquela união era impressionante, mesmo em meio ao rigor militar, era um milagre de humanidade.

 

Além disso, em situações de conflito, especialmente aquelas que exigiam tomar decisões rápidas, o senso de camaradagem parecia surgir do nada. Certa vez, durante uma simulação, tínhamos que lidar com um cenário de crise. A tensão estava no ar, e as emoções estavam à flor da pele. Aquele dia testou não só a habilidade técnica dos soldados, mas também o vínculo entre nós. À medida que cada um lutava para contornar o desafio, as trocas de olhares e as palavras de incentivo tornaram-se ainda mais significativas. O grito de um colega, “Vamos juntos, equipe!”, ecoou como um mantra, e, ao final, cada um de nós saiu mais fortalecido, não apenas como individualidades, mas como parte de algo muito maior.

 

Naqueles dias em que a fragilidade nos ameaçava, a resiliência se mostrava através do cuidado mútuo. A ação sincera de um amigo, o apoio que vinha nas horas mais inesperadas, tudo isso fazia com que as dificuldades fossem mais leves. Foi ali que percebi o quanto as relações construídas podem ser um alicerce. Uma amizade verdadeira, construída com base em confiança e respeito, é a fundação que sustenta não só momentos difíceis, mas também os momentos de alegria e celebração.

 

Refletindo sobre essas experiências, me peguei pensando: como esses princípios se aplicam nas nossas vidas fora do quartel? Por que é tão comum esquecer dessas lições em nosso cotidiano? O que nos impede de oferecer o mesmo apoio fora daquelas paredes? Olhando para a vida de hoje, percebo que precisamos, muitas vezes, da mesma coragem que desenvolvemos no quartel para fortalecer nossas conexões. Precisamos ser ativos na construção de um espaço de acolhimento e empatia. Cada vez que tomamos a iniciativa de ouvir ou ajudar, estamos criando um ambiente que não só acolhe, mas também transforma.

 

Essas reflexões são convites. Um convite para que olhemos de maneira diferente para as relações que cultivamos no dia a dia. Precisamos lembrar que a amizade e a solidariedade não são apenas palavras para enfeitar discursos. Elas são poderosas, e podem nos guiar em meio a tempestades, sejam elas no quartel ou na vida que nos espera lá fora. É um desafio constante cultivar essa amizade genuína, e um lembrete poderoso de que, em última análise, somos todos humanos, buscando conexão e entendimento em um mundo que muitas vezes parece tão acelerado e impessoal.

 

A rotina dentro do quartel, com sua estrutura organizada e hierarquias definidas, muitas vezes se assemelha à vida em sociedade, trazendo à tona lições valiosas que podem ser aplicadas em diversos aspectos do cotidiano. Um exemplo claro disso é a dinâmica que se forma durante os treinamentos em grupo, onde cada soldado desempenha um papel. Pode parecer simples, mas é fascinante notar como as pequenas interações e responsabilidades se entrelaçam para criar um ambiente coeso. Uma vez, em um dia de exercício, lembro-me de um momento em que precisávamos executar uma manobra sob pressão. O clima estava tenso, e a ansiedade se espalhava como uma onda. No entanto, eu percebi que, quando um colega, que sempre foi um pouco mais reservado, tomou a frente e começou a orientar os demais, a energia mudou drasticamente. Ele se tornou um líder temporário, e isso me fez refletir sobre como todos nós temos um papel, mesmo que não o reconheçamos imediatamente.

 

O apoio mútuo durante esses momentos de desafio é semelhante ao que encontramos fora do quartel. Relacionamentos, sejam eles de amizade, colaboração ou amor, são fundamentados em interações de apoio e compreensão. Às vezes, aquela palavra de encorajamento de um amigo é tudo o que precisamos para encontrar coragem para enfrentar nossas próprias batalhas. Os dias no quartel foram, na verdade, um treinamento para a vida, mostrando-me a importância de estar presente para aqueles ao meu redor. As dinâmicas que ocorrem em um ambiente militar são intensas, mas a essência do que ali vivemos se aplica a qualquer contexto social. O cuidado e a empatia são essenciais, e nunca devemos subestimar a força que têm.

 

Certa vez, em uma situação em que os ânimos estavam exaltados devido a uma falha em um exercício, observei um soldado que, ao invés de se deixar levar pela frustração, decidiu abordar a situação com um sorriso e uma abordagem leve. Ele contagiou os demais e transformou um momento tenso em um espaço de risadas e aprendizados. Foi um verdadeiro milagre em meio ao caos, me fazendo pensar em quantas vezes deixamos que pequenos desentendimentos estraguem nosso dia a dia. Um simples gesto de compreensão pode ser o que precisamos para mudar nossa perspectiva.

 

A memória de momentos como esses ainda me aquece. Apenas imaginar as risadas compartilhadas após um dia difícil dá um certo alívio. Um amigo me contou uma vez que, durante aqueles períodos exigentes, uma noite em que todos estavam reunidos, o clima se transformou em algo quase mágico. As conversas se desenrolavam, as histórias eram trocadas, e mesmo as dificuldades passadas ganhavam um tom de aprendizado e camaradagem. Isso me leva a pensar sobre como esses vínculos são construídos na base de vivências compartilhadas e desafios superados juntos. A verdade é que quando cultivamos conexões autênticas, estamos investindo em um suporte emocional que nos acompanha não apenas naqueles dias, mas por toda a vida.

 

Lidar com a hierarquia no quartel também traz lições práticas. Muitas vezes, quando um soldado desobedeceu uma ordem ou cometeu um erro, a repercussão não era apenas sobre um ato isolado, mas sobre a confiança do grupo. Um erro, se encarado corretamente, se torna uma oportunidade de aprendizado. A possibilidade de um erro se transformar em uma lição se reflete nas nossas vidas cotidianas. Como lidamos com nossos próprios erros? É preciso entender que cada tropeço tem o potencial de nos ensinar algo novo, e que o apoio da equipe se faz essencial nesse processo.

 

O clássico "juntos somos mais fortes" nunca pareceu tão verdadeiro. Naqueles momentos em que enfrentávamos dificuldades, a camaradagem emergia como a verdadeira fortaleza. As tentativas de superar desafios individuais eram frequentemente complementadas pela determinação coletiva. O aprendizado que surgiu desses momentos compartilhados não apenas moldou o nosso caráter, mas também influenciou a maneira como começamos a ver a vida fora do quartel.

 

E assim, ao olhar para aquelas experiências, fica claro que o cotidiano militar, com seus exercícios e hierarquias, não é apenas um treinamento físico. É, acima de tudo, um espaço onde aprendemos a importância da união e do apoio mútuo. Esses princípios, quando trazidos para o dia a dia, podem ser transformadores. Cada lição vivida nos momentos de treinamento e interação ressoam com a sabedoria de que compartilhar a carga faz toda a diferença, seja no quartel ou nas nossas vidas. É isso que nos conecta e nos torna humanos.

 

Era uma tarde qualquer no quartel, e o cheiro do café fresco se misturava com a adrenalina dos treinos. As mensagens codificadas e ordens eram trocadas em meio ao barulho do dia a dia. Entretanto, o que realmente se destacava ali não eram as funções ou as hierarquias, mas sim os sorrisos e as conversas à sombra das árvores. Esses momentos simples, que poderiam passar despercebidos, carregavam uma força imensa. Era ali, entre uma risada e uma conversa casual, que as conexões se aprofundavam.

 

Recordo de um dia em especial. Estávamos a metros de um exercício de campo que parecia insuportável. O sol queimava a pele, e as palavras de comando ecoavam, enquanto nosso corpo gritava por descanso. Foi naquele momento que um dos soldados, o Marco, percebeu a tensão no ar. Ele se virou e disse: "Se a gente não rir agora, vamos surtar." O riso, que parecia um eco distante, logo se espalhou como um efeito dominó. Durante alguns minutos, esquecemos do cansaço e dos desafios. Naquele instante, a amizade se solidificou, e a camaradagem mágica começou a nos unir.

 

É incrível pensar como o suporte mútuo cria um espaço onde a vulnerabilidade é aceita. Em momentos críticos, não é apenas o treinamento que sustenta um batalhão, mas a coragem de abrir o coração. Lembro-me de uma noite em que um dos nossos, o Renan, estava realmente abatido devido a problemas pessoais. A tempestade lá fora não era nada em comparação à que ele enfrentava. Mas, naquela mesa do refeitório, em meio a um jantar monótono, tomamos um tempo para ouvi-lo. Foi um milagre ver como a mera disposição para ouvir pode transformar a definição de força. Ali, todos éramos soldados, mas também amigos que se importavam.

 

A união durante os dias difíceis, especialmente os de treinamento intenso, revelava uma beleza inesperada. Não se tratava apenas de sobreviver, mas de viver juntos, em sintonia. Naqueles momentos de pressão máxima, a resposta apropriada não era sempre rígida ou técnica, mas, frequentemente, um toque humano. Acolher uns aos outros, mesmo nas adversidades mais irritantes, se traduzia em um aprendizado surpreendente, onde o essencial se destacava: é preciso cultivar relações significativas.

 

A camaradagem se tornava um alicerce inabalável, uma construção meticulosa em meio ao ambiente austero. Cada olhar solidário, cada gesto sincero de apoio, construía um eco que reafirmava a importância do coletivo. Nas noites em que as tensões ameaçavam explode, a presença de um amigo à disposição fazia a diferença. Tudo isso me leva a pensar em como, fora do quartel, enfrentamos batalhas semelhantes. As interações do cotidiano, beirando a superficialidade, nos fazem esquecer que a conexão humana é a chave para a superação.

 

Em um mundo que muitas vezes parece tão segmentado, a lição que levei comigo do quartel é esta: cultivar laços significa enfrentar a vida juntos. Quando um verdadeiro amigo se aproxima em momentos de dificuldade, a sensação de estar profundamente apoiado torna-se um verdadeiro milagre. E sim, lembrar daqueles dias pode até parecer nostálgico, mas traz à tona um chamado, uma reflexão: temos agido como verdadeiros amigos em nossas relações hoje?

 

Cada um de nós carrega a responsabilidade e a possibilidade de ser o suporte do outro, na alegria e na dor. Portanto, ao seguir em frente, que possamos valorizar essas conexões e ter a coragem de construir o que é essencial em nossas vidas: estar presente, de coração aberto e genuíno. É a magia da união que realmente transforma e dá força ao enfrentamento do que parece insuportável.

Capítulo 12: Encerramento e Reflexões Finais

 

Durante o tempo que passei no quartel, a vida se revelou um mosaico vibrante de experiências e emoções que, até hoje, ecoam em minha memória. Era estranho o jeito que tudo se misturava, não era apenas um período de disciplina e treinamento, mas uma verdadeira montanha-russa emocional. Lembro-me nitidamente de uma manhã fria, quando o aroma forte e reconfortante do café fresco invadia o refeitório. O sol ainda esmurrava o horizonte, tímido em comparação ao barulho dos passos apressados dos soldados no hall, como uma sinfonia de desembarques acelerados. A ansiedade e a expectativa estavam no ar, misturadas com o cheiro de uniformes novos e o sopro gelado do inverno que se aproximava. Era o dia em que recebi minha primeira medalha.

 

Quando o nome foi anunciado, sinto meu coração acelerar, uma onda de emoções me tomou de assalto. Olhos brilhantes, algumas palmas suadas, e eu, ali no meio de tantos, com as pernas quase tremendo. A medalha, ao ser colocada sobre meu peito, não era apenas um pedaço de metal, mas o símbolo da superação. Lembro que havia sorrisos e olhares de orgulho. Sensação indescritível. Aquela medalha representava todas as batalhas que lutei, desde o medo de não ser aceito até a pressão dos treinamentos intensos. Senti uma conexão profunda com cada um dos meus companheiros que, àquela altura, também viviam suas próprias jornadas de transformação.

 

Mas havia também os desafios que me marcaram em outros níveis. Recordo-me de um incidente que parecia pequeno na época, mas fez uma diferença colossal na minha formação. Certa vez, em um exercício de simulação, meu grupo enfrentou uma situação complexa que exigia calma e estratégia. A adrenalina correu nas veias enquanto tentávamos resolver o impasse. As críticas de um superior me atingiram em cheio, não vou negar. Foi um período de desconforto, onde as palavras ressoaram em mim, e a insegurança deu as caras. Confrontar aquelas críticas não foi fácil. A pergunta que ecoava na minha mente era: “O que estou fazendo aqui mesmo?” Era intenso, angustiante.

 

A reflexão sobre todas essas experiências pode ser, em muitos sentidos, reconfortante. Com cada desafio, após algumas noites em claro, eu me permiti aprender e, mais importante, eu me permiti sentir. Sinto um calor no peito ao me lembrar do camaradagem que surgiu entre nós, forças unidas por objetivos que, na maioria das vezes, pareciam distantes. Havia um espírito de coletividade, onde cada um cuidava do outro, e isso fazia toda a diferença. Uma cena que descreve perfeitamente o cotidiano no quartel é quando, após um intenso dia de treinamento sob o sol escaldante, todos nós nos reuníamos em frente ao barracão. Eram risadas, comentários hilários sobre as trapalhadas do dia, e um alívio coletivo. Era como se aquela cumplicidade fosse um bálsamo para o estresse acumulado.

 

Estar no quartel foi, portanto, uma mistura de emoções intensas e crescimento constante, onde cada medalha e cada sorriso revelavam um universo de sentimentos. Cada passo dado e cada erro cometido moldaram quem eu sou hoje. E isso, bem, é algo que carrego com muito carinho. Sinto que essas memoráveis vivências e as lições aprendidas soam como ecos de um tempo que jamais esqueceremos, moldando não apenas a minha trajetória, mas também minha visão de futuro.

 

As amizades que surgiram ao longo daquela rotina intensa no quartel têm um espaço especial na minha memória. Lembro-me de cada olhar cúmplice, cada risada solta que ecoava pelas paredes frias daqueles corredores. Havia algo reconfortante em compartilhar a solidão das madrugadas de vigília, com a brasa da lanterna iluminando nossos rostos cansados. Aquela luz suave criava um ambiente quase mágico, em que um sorriso tornava-se um bálsamo para as dificuldades do dia a dia. Um dos momentos que mais me marcou foi em uma noite chuvosa, quando decidimos reunir alguns colegas para contar histórias e tomar café. O cheiro do grão torrado misturava-se com o cheiro da terra molhada, criando uma atmosfera de acolhimento que fazia a pressão da vida militar parecer um pouco mais leve.

 

Durante essa confraternização, conheci Rafael. Ele era um daqueles tipos que, à primeira vista, parecia um pouco enrolado na própria vida. Mas, ao falarmos sobre nossos sonhos e medos, percebi o quanto éramos parecidos. Em meio a risadas e anedotas sobre as aventuras desastradas que vivemos, fundamos uma amizade que se estendeu mesmo fora do quartel. O conforto de encontrar alguém que compreende as nuances daquela experiência intensificava a sensação de irmandade. Ao longo dos meses, criei laços com outros colegas como Thiago e Carol, que, apesar de nossos diferentes históricos e vidas, tornaram-se parte do meu cotidiano, como irmãos que, por acaso, havíamos escolhido.

 

Esses momentos de conexão eram intensamente cativantes, especialmente quando nos permitimos abrir nossos corações. Em meio a conversas sérias, houve espaço para o hilário, como quando tentamos fazer uma competição de quem conseguia manter uma cara séria durante uma cena ridícula em um filme que assistimos juntos. Ríamos tanto que o som enchia o espaço, levando embora qualquer traço de tensão acumulada durante a semana. Essas experiências deixaram uma marca que perdura até hoje.

 

No entanto, a vida no quartel também trazia desafios. Certa vez, enfrentei uma situação complicada com um superior que não parecia entender o que era ser humano. Ele tinha uma forma quase rigorosa e meticulosa de lidar com os soldados, o que gerou em mim uma insegurança pertinente. No entanto, ao buscar apoio e conselhos naqueles amigos, consegui articular melhor minha abordagem e, por fim, defender meus princípios de um jeito que me deixou surpreso. Essa superação não apenas fortaleceu nossa amizade, mas também mostrou a importância da vulnerabilidade em um grupo. Estar aberto, mesmo quando há medo, permite que outros se identifiquem e se aproximem. Às vezes, a força se manifesta na fragilidade.

 

Refletindo sobre tudo isso, percebo o impacto duradouro que essas amizades tiveram em minha visão de mundo. Elas me proporcionaram um novo entendimento sobre a importância de ter uma rede de apoio, especialmente em momentos de dificuldade. Naquele universo rigoroso, as conexões humanizavam o dia a dia, mostrando que, mesmo em meio à rigidez de um ambiente militar, havia espaço para o cuidado e a compaixão. Senti isso em cada abraço fraternal após um longo dia, cada olhar solidário nas horas difíceis. Essas experiências moldaram minha jornada, deixando uma intencionalidade e um carinho que, de alguma forma, me orientaram mesmo após deixar o quartel.

 

Cada reencontro trouxe à tona memórias que não se esvanecerão facilmente. Afinal, quem poderia esquecer aquelas longas caminhadas após o expediente, discutindo planos, filosofando sobre a vida e socializando aquele sonho maluco que tínhamos de viajar juntos pelo mundo? Conversas que, à primeira vista, pareciam desenfreadas poderiam ser um convite à reflexão sobre os caminhos que decidíamos seguir. E assim, em meio ao caos, construímos um espaço de segurança e crescimento. Essas amizades, ao contrário do que se poderia imaginar em um ambiente tão rigoroso, mostraram-se como pilares que sustentaram nossa sanidade e, por que não, a nossa humanidade.

 

As experiências vividas no quartel deixaram marcas profundas em minha trajetória, moldando o ser humano que sou hoje. Lembro-me claramente de um dia em que fui desafiado de uma forma que nunca esperava. Era uma manhã qualquer, e o ar estava impregnado com o odor familiar do café fresco que sempre me despertava antes mesmo de abrir os olhos. O ambiente, sempre rigorosamente organizado, parecia mais tenso do que o usual. Tínhamos uma nova liderança e, para ser sincero, a abordagem deste novo superior era bastante intimidadora. Naquele momento, sentia um medo palpável, um frio na barriga que me fazia questionar minhas próprias capacidades.

 

Um erro cometido em um exercício de treinamento se transformou em uma lição crucial. Naquele dia, o que deveria ser um momento de aprendizado virou um instante de humilhação pública. As palavras duras soaram como um eco nas paredes do quartel, e eu fiquei paralisado, refletindo sobre tudo o que estava acontecendo. Mas, na sequência desse sentimento avassalador, surgiu uma centelha de autoconhecimento. Me forcei a articular minhas ideias em reuniões seguintes, buscando não apenas defender meus pontos, mas também aprender a entender o outro lado.

 

Essa experiência não foi apenas um crescimento profissional; era pessoal. Tive que encarar minhas inseguranças e ver como elas me limitavam. Com o tempo, aprendi a transformar esse medo em determinação. Ao passar por situações desconfortáveis, me tornei mais resiliente. Durante conversas informais com colegas, percebi que muitos compartilharam experiências semelhantes. Essas trocas tornaram-se um espaço de apoio e encorajamento. Durante um jantar improvisado em frente àquelas instalações frias, muitas risadas e lágrimas foram compartilhadas, e cada história parecia ser uma peça de um quebra-cabeça que ia se montando em nossa memória coletiva.

 

À medida que o tempo passava, a dinâmica do quartel se transformava. A cada desafio, havia aprendizado. Uma das lições mais marcantes veio também de uma situação desconfortável: uma discussão acalorada com um companheiro de equipe. Eu o considerava um amigo, mas, naquele momento, a tensão foi palpável e difícil de respirar. No calor do momento, percebi que havia espaço para a vulnerabilidade. Isso os uniu ainda mais. Conversamos sobre nossos medos, anseios. Saí daquela situação não apenas aliviado, mas também mais consciente sobre a importância da empatia nas relações interpessoais.

 

Toda vitória, por menor que parecesse, foi uma construção. Exatamente como o momento em que finalmente consegui me posicionar de maneira clara em uma reunião decisiva. A sensação de ser ouvido e respeitado é algo que muitas vezes subestimamos. Essas experiências não foram apenas parte do treinamento; elas me ensinaram sobre liderança e respeito. Senti uma satisfação intensa ao notar que aquela dificuldade me proporcionou uma clareza imensa sobre onde queria chegar.

 

Aprendi que o crescimento não é uma linha reta. É um caminho tortuoso, demarcado por desafios e superações. Cada erro, cada frustração, contribuiu para uma versão mais forte de mim mesmo. Aprendi a dançar na chuva, a rir das minhas falhas e, acima de tudo, a ser honesto comigo e com os outros. Essas lições não apenas refletiram no meu tempo no quartel, mas continuam a ressoar na minha vida diária, na maneira como enfrento desafios e como me relaciono com as pessoas ao meu redor. E isso é um verdadeiro milagre.

 

Como encerrar um ciclo repleto de experiências? A verdade é que cada momento vivido durante aquele tempo no quartel deixou cicatrizes e, ao mesmo tempo, uma luz capaz de iluminar novos caminhos. Ao olhar para trás, percebo que aquelas horas de medo, e incertezas se transformaram em algo surpreendente; foram elas que moldaram a minha essência. Lembro-me de uma tarde no refeitório, onde, após um exercício intenso, rimos até as lágrimas ao ouvir as histórias malucas de um colega sobre sua primeira experiência em campo. O calor da interação e as gargalhadas ecoavam um sentimento de pertencimento, um alicerce que sustentava todos nós em meio à pressão.

 

As amizades daquele lugar sempre tiveram um papel essencial. Você já teve aquela conexão instantânea com alguém? A primeira vez que conheci o Flávio, ele estava tentando se mostrar durão, mas sua sinceridade escapava em cada palavra. Naqueles momentos em que o mundo parecia desabar, ele se tornava um porto seguro. É engraçado como essas trocas, que a princípio pareciam meras formalidades, foram se transformando em laços profundos. Lembro de uma noite em que decidimos acender uma fogueira clandestina e compartilhar nossos sonhos e temores. A luz suave iluminava nossos rostos, mas o que realmente brilhava era a vulnerabilidade exposta a cada palavra. A partir daí, histórias que poderiam ser pesadas tornaram-se risadas compartilhadas, combinações de milagre e esperança que aqueciam o coração.

 

Esses momentos também trouxeram à tona desafios internos. Houve um dia específico em que me deparei com um superior que parecia ter o dom de desafiar cada uma das minhas convicções. Era como lutar contra um tornado, e a frustração tomou conta. Eu poderia ter me cercado de desespero, mas, ao contrário, encontrei uma oportunidade de crescimento. Com a sabedoria de alguns amigos, aprendi a articular melhor os meus pensamentos, a articular minhas ideias com clareza e a lutar pelas minhas convicções. Transcender o medo se tornou um rito de passagem. O compreensível se converteu em uma nova perspectiva: cada um de nós tem o poder de se reinventar, e essa transformação é a verdadeira essência da vida.

 

E assim, quando penso no futuro, sinto uma mistura de inquietude e expectativa. É surpreendente como os aprendizados daquele tempo reverberam ainda na minha vida. Encaro o amanhã com um sorriso de canto de boca, sabendo que cada doloroso aprendizado tem o poder de se transformar em algo belo. Por exemplo, um dia, alguns meses após sair do quartel, organizei um jantar para amigos que, assim como eu, buscavam um novo caminho. Uma pequena abobrinha salteada acabou se tornando um momento de risos descontrolados. Estávamos todos nervosos e inseguros, mas ao final da noite, foi como se aquela refeição nos conectasse mais do que qualquer habilidade da cozinha. Naquele instante, aprendi que até os erros, quando temperados com humor e amor, tornam-se memórias inesquecíveis.

 

Viver significa encarar os desafios com a certeza de que a dor pode se transformar em aprendizado e risos; são essas transformações que tornam a jornada leve, mesmo quando parece pesada. A vida é um grande palco onde podemos escolher nossa performance. Ao final, a esperança não é só um desejo; é uma ferramenta essencial que nos permite enxergar positivamente o horizonte. Afinal, quem disse que a sinceridade e a vulnerabilidade não podem vir acompanhadas de um toque de leveza? Por isso, com coração aberto, sigo adiante, sabendo que aprender e rir é o melhor jeito de viver.

Esta obra não é apenas um relato das minhas vivências no 1º Batalhão de Guardas, mas uma jornada profunda que busquei compartilhar com vocês, leitores. Em cada página, tentei transmitir não só os momentos de tensão e desafios que enfrentei, mas também as alegrias, risos e aprendizados que surgiram desse universo tão singular. A vida no quartel me ensinou sobre a importância da camaradagem, do respeito e da empatia. Cada amizade que formei, cada história contada e cada lição aprendida foram fundamentais para moldar minha visão de vida e fortalecer meu caráter.

 

Através das lembranças de momentos que podem parecer simples à primeira vista, como aquele cheiro de café fresco pela manhã ou a conversa descontraída com um colega, percebi que são esses pequenos detalhes que realmente tecem o nosso cotidiano. Eles trazem consigo um poderoso significado, revelando que, por trás da rigidez militar, havia um espaço que pulsava de humanidade, solidariedade e compreensão.

 

Além disso, a influência de personagens como Barbas e o Coronel Rubens Bayma Denyd me permitiram enxergar a complexidade da condição humana. Com Barbas, aprendi que a liberdade não é apenas uma questão física, mas uma dimensão metafísica profundamente enraizada nos nossos sentimentos e nas relações que cultivamos. As conversas que tivemos ilustraram para mim que a força do espírito humano muitas vezes brilha mais intensamente nas horas de dificuldade.

 

Como autor, quero que vocês, leitores, sintam-se tocados por essas histórias e que elas provoquem reflexões sobre as suas próprias vidas. Que a leitura deste livro não apenas os entretenha, mas também os inspire a valorizar as conexões que fazem no dia a dia, a enfrentar os desafios com coragem e a se permitir rir das adversidades. Cada um de nós, independentemente de onde viemos ou onde estamos, carrega uma história que merece ser contada e reconhecida.

 

Que essa obra funcione como um lembrete de que, mesmo em meio às provas da vida, sempre podemos encontrar luz e significado. A resistência, a amizade e a sabedoria adquirida nas experiências vividas são tesouros que nos acompanharão sempre.

 

Despeço-me com gratidão por cada um de vocês que se dispôs a embarcar nesta narrativa comigo. Espero que, assim como eu, vocês tenham encontrado inspiração nas páginas que compõem esta história.

 

RICARDO SOLANO BASTOS

SD/PADIOLEIRO  SOLANO 1247 CCS