segunda-feira, 16 de junho de 2025

Politto, o Gato que Ficou



Perder uma filha nunca é algo que se imagina viver.
Minha filha partiu aos 27 anos, jovem, cheia de planos e já com um futuro brilhante como jornalista. A revista que criou, Armazém, crescia com força e propósito no interior de São Paulo. Era mais que um projeto profissional — era um reflexo da sua alma criativa, inquieta e generosa.
A dor da perda é silenciosa. Ela não grita sempre, mas está sempre ali — nas manhãs mais calmas, nas conversas interrompidas pela ausência, no silêncio da casa que já foi mais cheia.
Mas ficou o Politto.
Um gato. Companheiro da minha filha, que hoje se tornou nosso companheiro de todos os dias. Ele não fala, mas entende. Não consola com palavras, mas com presença. Sabe exatamente a hora de deitar perto, de encostar a cabeça, de olhar com aqueles olhos que parecem ler a alma da gente.


Politto ficou.
E com ele, ficou também um pedaço da minha filha.
Na forma como ele se senta perto das pilhas da revista, como se estivesse guardando memórias.
Na maneira como circula pela casa, com leveza e graça, lembrando que a vida ainda pulsa.
É curioso como um animal pode carregar tanto.
Não só afeto, mas também esperança.


Politto não substitui. Ele revela: que mesmo na ausência, há presenças que permanecem.
Que o amor, quando é real, encontra formas de continuar.
E assim sigo.
Com a lembrança, com a saudade…
E com o gato, que não apenas ficou — mas me ajuda, todos os dias, a seguir.
“O Senhor está perto dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito abatido.”
Salmos 34:18

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