Em muitos lares e instituições de longa permanência para idosos, há uma prática silenciosa que poucos veem — ou preferem não ver. Trata-se do uso de contenção física: manter idosos amarrados à cama ou à cadeira, muitas vezes sob o argumento de “protegê-los” de quedas ou agitação.
Mas será que isso é mesmo cuidado? Ou seria apenas uma forma de facilitar a rotina institucional — mesmo à custa da dignidade humana?
O que é a contenção física?
Conter um idoso significa restringir seus movimentos, geralmente com cintos, faixas ou grades, impedindo que ele se levante ou se movimente livremente. A justificativa mais comum é a “segurança”: evitar quedas, prevenir acidentes, ou controlar comportamentos considerados “difíceis”.
Contudo, estudos mostram que contenções não evitam quedas de forma eficaz e, pior, podem aumentar o risco de lesões graves, além de causarem sofrimento emocional, humilhação e até depressão.
Uma rotina invisível e silenciosa
Muitas vezes, essas práticas são vistas como “parte da rotina” — e raramente questionadas. A frase “é para o bem dele” ou “é melhor assim, senão dá trabalho” revela uma lógica institucional que prioriza a organização do serviço em detrimento do bem-estar do idoso.
É preciso dizer claramente: nem um animal gosta de ficar acorrentado. Por que aceitar isso para seres humanos?
Contenção não é cuidado — é violação de direitos
O Estatuto do Idoso e as directrizes de atenção à saúde do idoso no Brasil deixam claro: todo idoso tem direito à liberdade, dignidade e respeito. A contenção física, quando usada de forma rotineira, sem avaliação clínica precisa, é uma violação ética e legal.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a contenção seja evitada ao máximo e só utilizada em situações excepcionais, de risco iminente, com justificativa médica, por tempo limitado e sempre com consentimento.
Cuidar é respeitar
Profissionais de saúde, cuidadores e familiares precisam estar atentos: o cuidado verdadeiro não está em prender, mas em acompanhar, escutar e respeitar.
Outras estratégias, como adaptações no ambiente, monitoramento mais próximo, estímulo à mobilidade segura e capacitação das equipes, são alternativas viáveis e humanas.
Conclusão: é hora de mudar o olhar
A contenção física de idosos é um tema incômodo — mas urgente. Para que o envelhecimento seja vivido com dignidade, precisamos romper com práticas que aprisionam sob o pretexto de proteção.
Que possamos olhar para os idosos não como um “problema a ser contido”, mas como pessoas que merecem liberdade, cuidado e respeito até o fim da vida.
Pr.Ricardo Solano
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